Francisco, o ator que saiu da "cidade claustrofóbica"

João Carlos Malta, Joana Bourgard, Rodrigo Machado (ilustrações) e João Antunes (desenvolvimento)

Francisco Braz tem 65 anos e é ator. Já nos meses antes da pandemia o trabalho minguara. A Covid-19 tirou o resto da vontade e da necessidade de viver numa grande cidade como Lisboa. Viajou até à infância, o que é igual a dizer que regressou à aldeia do interior algarvio em que nasceu − Cortes Pereiras, Alcoutim.

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1.1

Estar fechado num apartamento em Lisboa era claustrofóbico. Francisco Braz, ator de 65 anos, começou aos poucos a perder o gosto pela cidade.

Estar fechado num apartamento em Lisboa era claustrofóbico. Francisco Braz, ator de 65 anos, começou aos poucos a perder o gosto pela cidade.

1.2

Os palcos ficaram temporariamente para trás e agora tem apenas aparições pontuais. A televisão também o chama, por vezes. Teve uma pequena participação na novela “Nazaré”. Mas naquele recanto em que se cruzavam as rotas do contrabando do Guadiana redescobriu uma certa paz interior.

1.3

"Este silêncio é absolutamente maravilhoso. Há pessoas que não vivem bem com o silêncio. Eu por acaso vivo bem com o silêncio."

"Este silêncio é absolutamente maravilhoso. Há pessoas que não vivem bem com o silêncio. Eu por acaso vivo bem com o silêncio."

1.4

Sem ser a irmã e o cunhado, há dias em que o Francisco não vê ninguém. Aprendeu a estar consigo próprio.

1.5

"Aqui não se ganha tempo, mas o tempo tem outra dimensão."

1.6

Com o amigo Manuel, ex-guarda fiscal, partilha as manhãs. Fazem quilómetros serra acima, serra abaixo. Tem na horta a poucos metros de casa, a “menina dos seus olhos”.

Com o amigo Manuel, ex-guarda fiscal, partilha as manhãs. Fazem quilómetros serra acima, serra abaixo. Tem na horta a poucos metros de casa, a “menina dos seus olhos”.

1.7

Francisco não foi viver para a aldeia porque é “chique”, porque é “moda”. Voltou para o berço dos que o conhecem e conhecia. Afinal aos 65 anos ainda sabe bem ser chamado por “menino Francisco”. E há um conjunto de solidariedades que um mundo pequeno faz crescer e reproduzir-se.

1.8

"Tantas vezes dou boleia a pessoas que precisam de ir à farmácia, ao supermercado. Até me chama o Uber aqui do sítio."

1.9

E em Cortes Pereira há um mundo de possibilidades imaginadas na cabeça de Francisco. O vazio cada vez maior de pessoas não lhe reduz o sonho, adapta-o. A cabeça não para. Nunca.

E em Cortes Pereira há um mundo de possibilidades imaginadas na cabeça de Francisco. O vazio cada vez maior de pessoas não lhe reduz o sonho, adapta-o. A cabeça não para. Nunca.

1.10

De vez em quando, e apesar de estar feliz no papel que a vida lhe reservou agora, ainda tem o pensamento no palco.

De vez em quando, e apesar de estar feliz no papel que a vida lhe reservou agora, ainda tem o pensamento no palco.

1.11

Na mudança de vida para o interior desertificado, Francisco aprendeu coisas novas e redescobriu outras que estavam arrumadas no passado. O regresso à cidade? Não está nos planos.

Na mudança de vida para o interior desertificado, Francisco aprendeu coisas novas e redescobriu outras que estavam arrumadas no passado. O regresso à cidade? Não está nos planos.

1.12