"A água tem de passar por algum lado". Do académico ao relojoeiro, todos repetem a mesma frase na baixa de Lisboa. A ocupação da cidade em cima de ribeiras e a impermeabilização do solo, por via do cimento e do alcatrão, agravaram os impactos das cheias por via de chuvadas intensas com pouca duração. O record de precipitação diária em Lisboa é de 118 milímetros desde 18 de Fevereiro de 2008. Mas não é preciso muito para o coração da capital ficar com a cabeça em água. Ou os pés, pelo menos.
Simulação de inundação por precipitação intensa em Lisboa. Comentário de Pedro Garrett (CIRAC)
Os investigadores construíram mapas que detalham os danos médios anuais, no momento presente, em zonas como a Avenida da Liberdade e ruas adjacentes. Identificaram 285 estruturas que neste momento apresentam um risco baixo de dano ( abaixo de 0.29%). O problema está nos recheios das lojas, os chamados activos fixos não industriais. Numa zona de poucas caves, a água atinge sobretudo o rés-do chão, alagando moveis, frigoríficos e produtos para venda.
visitas guiadas às zonas criticas de inundação da baixa de Lisboa
É tudo muito rápido até para quem tem muito tempo disto. No Teatro Nacional D.Maria II, o plano de emergência tinha estado focado para a resposta ao pior da sua história. A memória do incêndio de há 50 anos ainda percorre a casa. Mas focos de inundações e infiltrações que causaram prejuízos recentes só aceleraram a resposta interna de uma instituição situada numa das zonas vermelhas das inundações em Lisboa.
A jusante, a água atinge com mais dureza a Rua de São José. Os mais velhos admitem que as mais recentes obras de drenagem melhoraram a situação. Mas dizem-se impotentes para travar uma torrente de problemas que passam pela água e continuam na subida das rendas e no impacto da crise.
Comporta. Taipal, Placa. A mesma chapa tem vários nomes. No jargão das alterações climáticas, o pedaço de ferro que encostam à porta quando fecham a loja é uma "medida de adaptação". Uma prova do saber dos tempos.