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Estas são as personalidades e os acontecimentos de 2019 ordenados pelos utilizadores e ouvintes da Renascença.

Explore a Radiografia do ano: leia os textos, veja os vídeos, experimente os gráficos.

  • Cardeal D. Tolentino Mendonça

    Cardeal D. Tolentino Mendonça

    No espaço de pouco mais de um ano, D. Tolentino Mendonça passou de sacerdote a arcebispo e foi feito cardeal. Aos 53 anos, o poeta português recebeu o anel e barrete cardinalícios num consistório convocado pelo Papa. Francisco já o tinha chamado para junto de si, para ser arquivista e bibliotecário da Santa Sé, depois de D. Tolentino ter orientado um retiro espiritual a convite do Santo Padre. Encara as mudanças na sua vida com tranquilidade, pois são “a vontade de Deus”. Sente que a sua vocação é “estar à porta” para convidar as pessoas para a Igreja, disse numa entrevista à Renascença que se assumiu como um cristão da atualidade. “Tenho de escutar a linguagem do meu tempo, a arte, os problemas, as esperanças e isso é alguma coisa que sinto como um dever profundo de homem de fé”, declarou o novo cardeal português, que passa a poder escolher o Papa em conclave e a ser eleito.


  • Rui Pinto

    Rui Pinto

    Pirata informática para uns, denunciante para outros. Rui Pinto foi detido no início do ano, na Hungria, e extraditado para Portugal. Está em prisão preventiva. O génio da informática, natural de Gaia, é suspeito de invadir servidores e roubar informação sensível de clubes de futebol, ao fundo de investimento Doyen, a uma sociedade de advogados e até do Estado. Foi acusado de 147 crimes de acesso ilegítimo, de violação de correspondência, de sabotagem informática e de tentativa de extorsão. Através da página do Facebook Football Leaks, divulgou contratos de jogadores, comissões, negócios obscuros e outras informações de clubes como Benfica, Sporting e FC Porto. O “super-empresário” Jorge Mendes e Cristiano Ronaldo também foram visados. Numa mensagem enviada à Renascença a partir da prisão, Rui Pinto admite ter cometido atos ilegais e que tenha de responder por eles, mas acusa a Justiça portuguesa de perseguição e de ter uma postura violenta e vingativa contra ele. Ana Gomes entregou-lhe, na prisão, um prémio europeu para denunciantes. A detenção de Rui Pinto "é uma vergonha", critica a socialista.


  • Miguel Duarte

    Miguel Duarte

    Arrisca uma pena de 20 anos de cadeia em Itália. O seu “crime”: ajudar a salvar milhares de migrantes no Mar Mediterrâneo. O português Miguel Duarte, juntamente com outros ex-tripulantes de um navio humanitário, foi notificado pelo Ministério Público italiano de que está a ser investigado por suspeita de auxílio à imigração ilegal. Foi lançada uma campanha de angariação de fundos, pela plataforma Humans Before Borders, para assegurar a defesa do ativista, que cresceu na Azambuja, estudou Física Teórica no Técnico e está a tirar um doutoramento em Matemática. Miguel Duarte não tem dúvidas: “é uma investigação motivada politicamente, com um objetivo político muito bem definido, que é acabar com o fluxo migratório, que tem sido a bandeira de vários partidos anti-imigração pela Europa”. O caso originou uma onda de solidariedade. O Governo garante todo o apoio e o Presidente da República elogiou o trabalho humanitário do jovem português. Marcelo Rebelo de Sousa vai mais longe e afirma que "defender a vida é uma obrigação para o direito português" e estranhou que não o seja "para outros direitos".


  • António Costa

    António Costa

    Desde a célebre corrida entre um burro e um Ferrari, numa campanha autárquica nos idos da década de 90 do século passado, o percurso político de António Costa tem sido sempre a subir os degraus do poder. Com Costa aos comandos da “geringonça” e contra as expectativas de muitos, o Governo cumpriu o mandato até ao último dia. Mas a reta final foi acidentada. Em 2019, o líder socialista enfrentou a contestação de médicos, enfermeiros, polícias, militares e professores, enquanto duas greves de motoristas ameaçavam paralisar o país. De um ex-ministro acusado em Tancos, questões sobre o seu próprio envolvimento no caso, de um alegado “mal-estar” com a Presidência ao "Family Gate", teve de lidar com várias crises e casos. Ainda ameaçou com a demissão  por causa do tempo de serviço dos docentes, mas a tempestade política acabou por passar. Ganhou as europeias de maio, fez uma cataplana de peixe na televisão e venceu as legislativas de outubro, m as falhou a maioria absoluta. Sem um acordo escrito com BE e PCP, o "otimista" assumido garante: "este Governo é para quatro anos, comigo não há pântanos". E até já se mostrou pronto para uma terceira legislatura. Mas vai ser preciso ginástica negocial para levar a atual até ao fim. E o diabo pode estar ao virar da esquina, com os ventos do Brexit e de guerras comerciais. Acusado de ser o responsável pela maior carga fiscal de sempre, lançou o passe único a preços mais reduzidos, aumentou o salário mínimo nacional e baixou o défice para perto de zero.


  • Movimentos inorgânicos e novo sindicalismo

    Movimentos inorgânicos e novo sindicalismo

    Nasceu em maio e do descontentamento de elementos da PSP e GNR com a falta de condições de trabalho e salariais. O Movimento Zero anuncia que “não tem representantes” e já apresentou um caderno reivindicativo. É um movimento inorgânico, sem estrutura organizada, uma espécie de coletes amarelos das forças de segurança. O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) diz que é "preocupante" e pode ser perigoso. O Zero passa a palavra nas redes sociais e conseguiu dominar a manifestação de polícias de novembro, convocada pelos sindicatos tradicionais da PSP e GNR. O movimento garante não ter cor política, mas a simpatia pelo deputado André Ventura, do Chega (extrema-direita), foi evidente durante o protesto. Novas formas de sindicalismo, desligadas das centrais sindicais, também chegaram a Portugal. É o caso do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), que quase paralisou um país em duas greves que afetaram o abastecimento de combustíveis. O rosto do SNMMP é Pedro Pardal Henriques, um advogado sem qualquer histórico de ligação ao setor. A longa luta dos enfermeiros também conheceu inovações, com o recurso ao ‘crowdfunding’ para constituição de um fundo de greve que angariou quase 800 mil euros.


  • Mário Centeno

    Mário Centeno

    “Eu também tenho o meu Mário Centeno”. A frase de Rui Rio durante o debate das rádios, na campanha para as eleições legislativas, evidenciou o estatuto conquistado nos últimos anos pelo ministro das Finanças socialista. Depois de ter estado na lista de favoritos para o cargo de diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Portugal parecia pequeno para o “Ronaldo das Finanças”. A continuidade de Centeno no novo Governo foi o tabu da campanha para as legislativas, em que foi uma das estrelas do PS. Deixou mesmo no ar a possibilidade de não seguir no cargo. “Não se é ministro por apetite”, chegou a dizer. Os socialistas ganharam e Mário Centeno ficou para fazer o Orçamento do Estado. O documento prevê um (raro) excedente orçamental de 0,2% - questionado pela esquerda - e um crescimento de 2%, em 2020, mantendo o executivo uma previsão de défice de 0,1% para este ano. Mas a UTAO e o Conselho de Finanças Públicos admitem que o excedente pode acontecer ainda em 2019. O registo, sem paralelo desde 1973, tem a assinatura de Mário Centeno.


  • Rui Rio

    Rui Rio

    O político que nunca tinha sofrido uma derrota eleitoral na vida, encaixou duas no espaço de poucos meses e ainda não se conseguiu afirmar como líder da oposição. Primeiro, Rui Rio perdeu as europeias de maio, com o pior resultado da história do PSD em eleições nacionais (21,9%). A campanha ficou marcada por um tema bem nacional. A oposição unida aprovou, em sede de comissão, a reposição integral do tempo de serviços dos professores e o primeiro-ministro dramatizou.  António Costa ameaçou demitir-se se a medida avançasse, em nome das contas públicas. Rui Rio demorou alguns dias a reagir e recuou. Afinal, o PSD só votaria a favor com uma claúsula de salvaguarda financeira. Mas o mal já estava feito. O partido apontou depois baterias às legislativas de outubro. As sondagens não eram animadoras, mas Rui Rio conseguiu marcar pontos em campanha. Surpreendeu nas entrevistas e nos debates. Mostrou-se combativo e tentou colar Costa ao caso de Tancos, cuja a acusação foi conhecida a dias das eleições. Perdeu as legislativas, com 27,7%, mas conseguiu evitar a maioria absoluta do PS. Aponta a “instabilidade interna nunca vista na história do PSD” como uma das causas para a derrota e marcou eleições internas, onde vai defrontar Luís Montenegro - que já tinha desafiado no início do ano - e Miguel Pinto Luz.


  • José Cid

    José Cid

    “É um reconhecimento que o público nunca me negou”. Foi assim que José Cid recebeu a notícia de que tinha conquistado um Grammy Latino "por excelência musical". Partilhou com o universo do “pop/rock português, que tão ostracizado tem sido", este prémio internacional que, nas palavras do próprio, é o mais importante em cinco décadas de carreira. A academia Grammy considera que o músico, cantor e compositor, natural da Chamusca, “criou as bases do rock português”. Desde Os Babies, banda de versões fundada em 1956, ao Quarteto 1111 e mais tarde a solo, José Cid contribuiu para a mudança no panorama musical. Anda nas bocas do povo. Quem nunca cantou "como um macaco gosta de banana"? Há um antes e um depois, diz o júri. José Cid recebeu a distinção numa cerimónia em Las Vegas e tornou-se no segundo português a conquistar o Grammy, depois de Carlos do Carmo.

  • Assunção Cristas

    Assunção Cristas

    Do sonho de ser primeira-ministra ao pesadelo do resultado nas eleições legislativas, a saída de Assunção Cristas da liderança do CDS foi um dos acontecimentos políticos do ano. O anúncio foi feito em plena noite eleitoral. “Construímos um projeto alternativo para o país que, claramente, não foi escolhido nestas eleições. Assumimos o resultado com humildade democrática”, declarou Assunção Cristas. A presidente do CDS sentiu que o partido foi uma “voz isolada no Parlamento”, a única oposição ao Governo de António Costa, com quem manteve intensos debates no Parlamento. Depois do bom resultado nas autárquicas de 2017, com um segundo lugar em Lisboa à frente do PSD, os democratas-cristãos foram sempre a descer. As europeias, com Nuno Melo a cabeça de lista, foram o presságio do bater no fundo das legislativas. Herdeira de Paulo Portas, Assunção Cristas está de saída e o CDS numa encruzilhada. Que caminho seguir no futuro, num contexto maior concorrência à direita, com a entrada novos partidos no Parlamento? A resposta caberá ao próximo líder que será eleito no congresso já marcado para o fim de Janeiro.


  • Crise no SNS

    Crise no SNS

    Falta de profissionais, serviços encerrados, greves de médicos e enfermeiros, centenas de consultas e cirurgias adiadas e utentes apanhados por tabela. Os sintomas de crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS) agravaram-se em 2019. Do encerramento noturno da urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, a problemas nas maternidades de Coimbra e Portimão, falta de oncologistas no Centro Hospitalar Tondela-Viseu, recusa dos chefes de equipa da urgência do Santa Maria em assumir responsabilidades sobre a assistência aos doentes por falta de médicos, os problemas sucederam-se. O SNS tem dificuldade em segurar médicos e gasta cada vez mais em tarefeiros, pagos à hora para tapar buracos. E o número de clínicos que pediu para exercer no estrangeiro também aumentou. A boa notícia de 2019 - com uma década de atraso - foi o início das obras de construção da ala pediátrica do Hospital de S. João, no Porto, que vai substituir os atuais contentores. O ano fechou com a ministra da Saúde, Marta Temido, a anunciar medidas: um reforço orçamental de 800 milhões de euros para 2020, um plano plurianual de 190 milhões de euros para investimentos e a contratação de 8.400 profissionais.


  • Morrer por violência doméstica

    Morrer por violência doméstica

    "Homem mata a companheira e entrega-se à PSP". A notícia relata a tragédia de Gabriela, uma das mais de três dezenas de vítimas mortais de violência doméstica em 2019. Os dados (provisórios) representam um aumento em relação aos últimos quatro anos. Se o período de análise for os últimos 15, então, mais de 500 mulheres foram assassinadas em contexto de relações de intimidade. Os números são esmagadores e não mentem. Portugal tem um problema. Perante a sucessão de mortes, ao ritmo de três por mês, o silêncio conformado deu lugar a manifestações. “Parem de nos matar”, pedem as vítimas de violência doméstica. O arcebispo de Braga defende legislação mais restritiva para atacar o flagelo, enquanto primeiro-ministro e Presidente da República apelam à denúncia das situações. Por vezes, as vítimas esbarram na Justiça. Foi o caso de uma mulher agredida pelo marido e pelo amante com uma moca de pregos. No acórdão, o juiz Neto de Moura desvalorizou o crime e criticou o facto de a vítima ser adúltera. Em 2019, recebeu uma advertência e, perante a pressão mediática, deixou de julgar casos de violência doméstica, a seu pedido. Por criar continua ainda um estatuto especial para as crianças vítimas de violência doméstica.


  • Extrema-direita e novos partidos no Parlamento

    Extrema-direita e novos partidos no Parlamento

    É em 2019 que a extrema-direita entra no Parlamento e Portugal começa a aparecer no mapa europeu dos partidos populistas e de extrema-direita. Três novos pequenos partidos de um só deputado –  Chega, com André Ventura; Livre, com Joacine Katar Moreira; e Iniciativa Liberal, com João Cotrim Figueiredo  vêm roubar a atenção mediática e provocar mexidas nas bancadas e no sistema.  Os portugueses votaram para as legislativas em Outubro e o resultado foi uma Assembleia da República nunca vista, com dez partidos representados. A soma dos votos ditou a vitória do PS, sem maioria absoluta. A “geringonça não morreu”, diz o primeiro-ministro, António Costa, mas desta vez não há acordos escritos com a esquerda. A noite eleitoral foi difícil para a direita tradicional. Depois da derrota pesada nas europeias – pior resultado de sempre em eleições nacionais –, o PSD obteve um dos mais fracos resultados em legislativas. Rui Rio convocou eleições internas. O CDS encolheu para cinco deputados e Assunção Cristas abandonou a liderança dos centristas, que se viram obrigados a cortar na estrutura do partido (sedes e pessoal). Entre os parceiros de “geringonça”, o Bloco manteve o mesmo número de deputados e a CDU perdeu cinco mandatos. O PAN cresceu de um para quatro deputados. 2019 também foi ano de eleições regionais na Madeira, em Setembro, com o PSD a perder a maioria absoluta pela primeira vez e a ser obrigado a governar em coligação com o CDS. Em Maio, as urnas abriram para eleger deputados europeus, com o  PS a pintar o país de rosa e o pior resultado "laranja" de sempre.


  • Portugal acolhe Jornada Mundial da Juventude em 2022

    Portugal acolhe Jornada Mundial da Juventude em 2022

    “Conseguimos. Vitória de Portugal”. O Presidente da República foi dos primeiros a celebrar de forma efusiva o anúncio de que Lisboa vai organizar a Jornada Mundial da Juventude em 2022. Foi no Panamá, logo no início do ano, na presença do Papa Francisco. O encontro vai ter lugar na zona do Mar da Palha, junto aos rios Tejo e Trancão e deverá atrair cerca de dois milhões de jovens de todo o mundo. “Maria levantou-se e partiu apressadamente” é o tema escolhido, revelou o Papa. O orçamento “será para cima de 50 milhões de euros", em linha com outras jornadas, segundo o cardeal patriarca, D. Manuel Clemente. A Igreja Católica conta o apoio das autarquias de Lisboa e Loures e do Estado. D. Américo Aguiar, que foi ordenado bispo auxiliar de Lisboa em 2019, e é coordenador da JMJ a par de D. Joaquim Mendes, destaca a importância deste encontro de fé. Além do grande "impacto e retorno" para Portugal, D. Américo congratula-se pelo facto de os líderes políticos reconhecerem essa importância. As paróquias já começaram a preparar a festa.


  • Greves dos motoristas de matérias perigosas

    Greves dos motoristas de matérias perigosas

    Postos de combustíveis “secos”, filas de automobilistas para abastecer e aviões a divergir para Espanha. Abril estava a meio e uma greve por tempo indeterminado dos motoristas de matérias perigosas quase paralisou o país. O protesto foi convocado pelo recém-criado Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), que exigia a revisão do contrato coletivo de trabalho. O advogado Pedro Pardal Henriques foi o porta-voz do descontentamento. A greve terminou ao fim de três dias, mas os profissionais do setor e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) não se entendiam. Por entre avanços e recuos, trocas de acusações e processos judiciais, os motoristas voltaram a paralisar em agosto. Os portugueses esgotaram os jerricãs, mas desta vez o Governo decretou serviços mínimos reforçados, requisição civil, decretou crise energética e chamou os militares para ajudar. Ao fim de sete dias, os motoristas decidiram voltar à estrada, mas logo uma nova greve foi marcada para setembro. Pardal Henriques salta do sindicalismo para a política e anuncia a candidatura a deputado. Deixa de ser porta-voz, mas continua nos bastidores. Depois de meses de luta, SNMMP e Antram concluíram a revisão do contrato coletivo de trabalho. A paz chegou em outubro.


  • Créditos ruinosos da CGD

    Créditos ruinosos da CGD

    O Banco de Portugal revelou a lista dos grandes devedores da banca, sem avançar nomes de clientes. O relatório mostra quanto perderam nos últimos 12 anos os oito bancos que recorreram à ajuda do Estado. A fatura dos créditos ruinosos é pesada para os contribuintes. Oito bancos pediram ajuda ao Estado e todos perderam com os grandes devedores. Nos últimos dez anos, a conta já chegou aos 8 mil milhões de euros. O Novo Banco é o caso mais grave: 36 devedores causavam perdas de 4,15 mil milhões no final de 2018. A Caixa Geral de Depósitos, o banco estatal, viu esfumarem-se 1.300 milhões nestes créditos. O Novo Banco tem vindo a agravar prejuízos ao longo do ano e vai voltar a recorrer ao Fundo de Resolução. Joe Berardo, a quem foram concedidos empréstimos ruinosos de 960 milhões de euros, foi à comissão de inquérito ao Parlamento dizer que não tem dívidas. Seguiu-se um efeito "boomerang" de indignação e os cobradores começaram a bater à porta do comendador. Este foi o ano em que a Autoridade da Concorrência aplicou uma multa milionária à banca portuguesa 225 milhões a 14 instituições, por cartelização e a maior de sempre a seguradoras, no valor de 24 milhões.


  • Clima extremo em Portugal

    Clima extremo em Portugal

    Nunca um furacão de categoria máxima chegou tão perto da Europa, desde que há registos. A fúria do “Lorenzo” atingiu os Açores, com rajadas de 163 quilómetros/hora e ondas do tamanho de prédios. Resultado: mais de 250 ocorrências - destruição total do porto das Lajes das Flores -, 53 desalojados e 330 milhões de euros em estragos. No continente, o clima extremo fez sentir os seus efeitos de outra forma. A falta de chuva entre abril e novembro agravou a situação de seca em Portugal. Alentejo e Algarve são as regiões mais afetadas. Em pleno inverno há aldeias que só têm água via camião cisterna. É o clima do Norte de África a saltar para o Sul da Europa, alertam os especialistas. A falta de chuva e a “torneira” fechada em Espanha afetaram o rio Tejo e afluentes. O Governo primeiro negou, mas depois admitiu um problema causado pela gestão dos caudais que vêm para Portugal. Um estudo internacional projetou o futuro. A subida do nível das águas, até 2050, pode “engolir” zonas ribeirinhas do estuário do Tejo e costeiras, do Algarve até Viana do Castelo. No ano em que a ativista ambiental Greta Thunberg passou por Portugal e das manifestações pelo clima, o Governo antecipou o encerramento das centrais a carvão de Pego e Sines, até 2023, tomou medidas contra o plástico e reafirmou o compromisso de ser neutro em carbono em 2050.


  • Casos Matilde, Rodrigo e bebé abandonado no lixo

    Casos Matilde, Rodrigo e bebé abandonado no lixo

    Três casos bem diferentes envolvendo recém-nascidos atraíram boa parte das atenções ao longo do ano. Primeiro foi a história da bebé Matilde a desencadear uma onda de solidariedade: os portugueses contribuíram com dois milhões de euros para comprar o medicamento inovador mais caro do mundo, o Zolgensma e salvar a vida da menina que nasceu com atrofia muscular espinal do tipo 1, uma doença rara e em muitos casos fatal. Já com a campanha em curso, o Infarmed acabou por assegurar a compra do fármaco e os pais de Matilde distribuiram o dinheiro por dezenas de outras crianças problemas de saúde. O país acompanhou também com preocupação o caso do "bebé sem rosto", um menino que nasceu com deficiências graves não detetadas por um obstetra de uma clínica de Setúbal, um médico já com um historial de queixas. No final do ano, foi o caso de um bebé abandonado no lixo, em Lisboa, a despertar ora indignação ora, no pólo oposto, compreensão. O recém-nascido é filho de uma jovem sem-abrigo que está em prisão preventiva, indiciada por homicídio qualificado. O menino foi salvo por outros sem-abrigo, que receberam um agradecimento do Presidente da República. O bebé está a cargo de uma família de acolhimento.


  • Ex-políticos na cadeia

    Ex-políticos na cadeia

    É o primeiro condenado a cumprir pena efetiva por tráfico de influência. Armando Vara entregou-se em janeiro no estabelecimento prisional de Évora, depois de esgotar todos os recursos. Aos jornalistas disse: “inocente”. O ex-ministro socialista tinha sido condenado em 2014 a cinco anos de prisão, no âmbito do processo Face Oculta. Os juízes deram como provado que o ex-vice-presidente do BCP recebeu 25 mil euros do sucateiro Manuel Godinho. Vara chegou a dizer que só lhe tinham dado "uns robalos" de presente. Em abril, foi a vez de um político com ligações ao PSD começar a cumprir pena, em Caxias. O ex-deputado Duarte Lima foi condenado por burla a seis anos de prisão no caso Homeland. Os problemas com a justiça não ficam por aqui. Duarte Lima vai ser julgado pelo homicídio de Rosalina Ribeiro. Na área da justiça, o ano fica marcado pelo início da fase de instrução da “Operação Marquês”, onde José Sócrates é o principal arguido. Ao juiz Ivo Rosa o antigo primeiro-ministro tentou explicar que o dinheiro para sustentar uma vida de luxos vinha de empréstimos do amigo Carlos Santos Silva e da herança da mãe. Mas há novos casos para acompanhar: A operação Teia, Rota Final e Éter foram novos casos para os portugueses seguirem nos próximos anos. 


  • Tragédia na Madeira

    Tragédia na Madeira

    Um autocarro com turistas saiu da estrada e voou ladeira abaixo, na ilha da Madeira, até embater numa casa. A tragédia provocou 29 mortos de nacionalidade alemã e 27 feridos. O acidente aconteceu numa zona sinuosa da Estrada Ponta de Oliveira, na freguesia do Caniço, concelho de Santa Cruz. O Governo português decretou três dias de luto nacional e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deslocou-se à Madeira para  homenagear as vítimas e "testemunhar solidariedade, gratidão e determinação" de quem ajudou. O desastre foi destaque na comunicação social alemã e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, também viajou até à ilha para acompanhar os feridos e o processo de regresso a casa. As causas do acidente ainda estão por apurar.


  • Ameaça de demissão do primeiro-ministro

    Ameaça de demissão do primeiro-ministro

    Foram vários os casos e as crises que o Governo de António Costa teve de enfrentar. O mais dramático foi a ameaça de demissão feita pelo primeiro-ministro, depois de a oposição ter acordado a contagem integral do tempo de serviço dos professores. PSD e CDS recuaram e o Governo não caiu. O PS subiu nas sondagens , teve uma vitória folgada nas eleições europeias e os professores recuperam menos de um terço dos nove meses, quatro anos e dois dias reivindicados. Houve também a polémica do lítio e das golas antifumo que não eram antifogo, que levou à demissão do secretário de Estado da Proteção Civil, Artur Neves, e do seu adjunto, arguidos numa investigação relacionada com a aquisição de materiais para o projeto Aldeia Segura. O Governo também esteve debaixo de fogo por causa do “family gate”. Em causa contratos entre Estado e familiares diretos de membros do executivo e ligações de sangue no Governo, entre 50 pessoas e 20 famílias. Um parecer da PGR esvaziou o caso dos negócios de familiares e, depois das eleições, António Costa apresentou o maior Governo da democracia, mas sem ligações familiares.


  • Ex-ministro acusado em Tancos

    Ex-ministro acusado em Tancos

    Em plena campanha para as legislativas, o Governo voltou a ser abalado pelo caso do furto e achamento armas em Tancos. O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes foi formalmente acusado dos crimes de abuso de poder, denegação de justiça e prevaricação. O Ministério Público alega que Azeredo sabia da manobra de encobrimento que levou à recuperação das armas. No total, há 23 arguidos, entre elementos da PJ Militar, da GNR e um ex-fuzileiro suspeito do furto. A poucos dias das eleições, PSD e CDS não deixaram cair o tema e perguntaram se o primeiro-ministro sabia. Rui Rio chegou a dizer que “há uma grande probabilidade” de António Costa ter mentido. A fase de instrução do processo começa no início de 2020 e o juiz Carlos Alexandre quer ouvir António Costa, presencialmente, como testemunha. O Presidente da República teve que vir a público negar notícias que envolviam o seu nome neste caso. Marcelo Rebelo de Sousa reafirmou que não sabia de nenhum alegado encobrimento no achamento das armas e atirou: "é bom que fique claro" que o Presidente "não é criminoso". 


  • Polícias em protesto e confrontos no Jamaica

    Polícias em protesto e confrontos no Jamaica

    Imagens de confrontos entre polícias e moradores no Bairro da Jamaica, no Seixal, chocaram o país no início do ano. Dias depois, uma manifestação contra a violência policial e o racismo, em Lisboa, acabou com novos incidentes e detenções. O Presidente da República visitou o Jamaica para acalmar os ânimos, mas acabou criticado pelos sindicatos da PSP. Quatro moradores e um polícia foram acusados pelos confrontos no bairro. Noutros incidentes, oito polícias foram condenados por agressões a jovens do bairro da Cova da Moura, na Amadora, e 11 agentes do corpo de intervenção da PSP acusados de cegar um adepto do Boavista acabaram ilibados, porque não foi possível identificar o agressor. Simultaneamente, o descontentamento com a falta de condições foi crescendo entre as forças de segurança e culminou numa das maiores manifestações de polícias. O protesto foi convocado pelos sindicatos da PSP e GNR, mas acabou por ser dominado pelo Zero, um movimento inorgânico, nascido nas redes sociais e que meses antes tinha virado costas ao ministro da Administração Interna e ao diretor nacional da PSP.