Estas são as personalidades e os acontecimentos de 2018 ordenados pelos utilizadores do site da Renascença. Explore a Radiografia do ano: leia os textos, veja os vídeos.
António Costa teve vários triunfos em 2018: aprovou o último orçamento da legislatura, conseguindo governar durante quatro anos com o apoio da “geringonça”; reduziu o desemprego e pagou antecipadamente a última tranche do empréstimo ao FMI, com uma poupança de 100 milhões de euros em juros. Com o aproximar do final do ano, o Governo enfrenta o descontentamento de enfermeiros, professores, magistrados e outras classes profissionais do setor público. Mas, para além dos triunfos, o primeiro-ministro também teve vária derrotas e acabou por ser forçado a fazer a remodelação mais profunda do seu mandato. Tudo por causa de Tancos, o assalto de 2017 que fez mossa no executivo em 2018. Costa tentou segurar Azeredo Lopes até ao limite, mas acabou por se resignar à demissão do ministro da Defesa, aproveitando o momento para renovar a equipa e trocar mais três ministros: Saúde, Economia e Cultura. Foi a maior remodelação governamental da legislatura, como que a ganhar fôlego para as legislativas de 2019. Ou talvez não, dados os problemas políticos que as novas ministras da Cultura e da Saúde começaram a causar no final do ano.
O PSD mudou de líder. Rui Rio venceu as eleições diretas, a 13 de janeiro, e sucedeu a Pedro Passos Coelho, inciando formalmente o seu mandato no congresso de Fevereiro. O 18.º presidente do partido conseguiu 54,1% dos votos nas eleições diretas e deixou uma promessa: oposição "firme", mas "nunca demagógica ou populista" e um "banho de ética" na política. Rio, contudo, tem sentido dificuldades em unir o partido. No congresso negociou com Santana Lopes uma lista conjunta ao Conselho Nacional do partido, mas rapidamente essa unidade se desfez e Santana acabou mesmo por sair do PSD para fundar um novo partido, o Aliança. Depois, também não conseguiu consenso na escolha do líder parlamentar. O escolhido foi Fernando Negrão, que tinha apoiado Santana, e que tem tido grandes dificuldades em controlar um grupo parlamentar em permanente convulsão e guerrilha. O caminho de Rio tem sido minado por vários casos e crises internas que atingem os seus mais próximos: perdeu o seu primeiro secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte, por causa de falsas referências no currículo, e a segunda escolha, José Silvano, é um dos vários deputados do PSD acusados de declarar falsas presenças no Parlamento. A estratégia de Rui Rio não está ainda a marcar pontos nas sondagens: o partido não passa dos 26% e está muito longe dos 40% do PS. Com três eleições na calha, entre as quais as legislativas, 2019 será um ano decisivo para Rui Rio.
Vice-campeão do mundo de Moto2 em 2018, Miguel Oliveira trouxe o motociclismo para a ribalta nacional e garantiu o passaporte para o MotoGP, em 2019. Pela primeira vez, Portugal terá um piloto na categoria máxima da modalidade. O jovem de Almada assinou três triunfos (Itália, República Checa e Valência) e pisou 13 pódios. Chegou a liderar o Mundial, mas o italiano Bagnaia, mais regular, terminou na frente. As más qualificações foram o principal problema do piloto que, nas 19 corridas da época, teve de recuperar um total de 135 posições entre o lugar de partida e a posição final. Miguel Oliveira é ambicioso e garante ter "todas as armas" para lutar pelo título mundial no próximo ano.
Já tinha muitos títulos, mas faltava este ao ar livre: o de campeão europeu. Nelson Évora conseguiu o feito a 12 de agosto, em Berlim. Conquistou mais uma medalha de ouro para Portugal, graças a um triplo salto de 17,10 metros, a melhor marca da temporada. O agora atleta do Sporting já tinha sido campeão mundial em 2007 e campeão olímpico em 2008. Na mesma competição, a equipa nacional trouxe mais um ouro na bagagem, graças a Inês Henriques, que venceu destacada os 50 quilómetros marcha. Em setembro, o Presidente da República condecorou Nelson Évora com a Grã Cruz da Ordem de Mérito e Inês Henriques como Grande Oficial da Ordem de Mérito. Marcelo disse que, para Nelson e para Inês, não há "fronteiras inultrapassáveis nem desafios invencíveis".
"Se pensam que me calam, não me calam." A frase é do Presidente da República e foi pronunciada a propósito do furto de armas em Tancos, um caso que Marcelo Rebelo de Sousa não deixou cair no esquecimento ao longo do ano, o que levou o primeiro-ministro, António Costa, a aludir à "ansiedade" do chefe de Estado. Tancos e os incêndios de 2017 marcaram ainda o 2018 presidencial, como, aliás, marcaram toda a vida política nacional. Na entrevista que deu à Renascença e ao Público, em Maio, o Presidente criticou a morosidade da justiça e avisou que não se recandidata a um segundo mandato se voltar a haver falhas no socorro às populações como tinha havido em 2017. E, para que ninguém esquecesse o que se passou, foi fazer férias nas regiões afetadas. No plano legislativo, Marcelo vetou vários diplomas, como o das alterações à lei de financiamento dos partidos, a lei Uber, a mudança de género aos 16 anos ou a lei que dá preferência aos inquilinos. No plano institucional, terminou o ano a receber duas visitas importantes: os presidentes de Angola e da China. O Presidente continua a viver o seu mandato intensamente, com uma agenda oficial sobrecarregada e aparições surpresa frequentes, muitas vezes para dar visibilidade a causas sociais como a situação dos sem-abrigo ou a necessidade de apoiar os cuidadores informais.
É em 2018 que o caso de Tancos conhece desenvolvimentos importantes. Mais de um ano após o desaparecimento do material de guerra dos paióis do exército, a investigação do Ministério Público concluiu que a Polícia Judiciária Militar (PJM), em conflito com a Polícia Judiciária, tinha feito um acordo secreto para que o arsenal fosse devolvido e o alegado autor do furto ficasse em liberdade. Numa primeira vaga, nove pessoas foram detidas e constituídas arguidas no âmbito da Operação "Húbris": o então diretor-geral da PJM, Luís Vieira, o ex-porta-voz da instituição, Vasco Brazão, outros três responsáveis da PJM, três elementos da GNR e um antigo fuzileiro alegadamente responsável pelo assalto. Outros nove suspeitos foram, posteriormente, detidos por envolvimento no furto. Quem mais sabia do encobrimento? Brazão garante que entregou um memorando no Ministério da Defesa, mas o assessor não terá "descortinado" a encenação. O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, negou estar a par do encobrimento, mas acabou por se demitir em outubro. Mais tarde, o chefe de Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também deixou o cargo. No Parlamento, uma comissão de inquérito investiga o caso, com a pretensão de ouvir, entre outros, o primeiro-ministro, António Costa. Mas as audições ainda nem começaram.
O alerta de perigo era antigo, mas ninguém atuou. Uma derrocada numa pedreira em Borba, a 19 de novembro, fez desaparecer cem metros de um troço da antiga Estrada Nacional 255. Com ela foram arrastadas duas viaturas e uma retroescavadora. Ao fim de 12 dias de uma complexa e arriscada operação de resgate, cinco pessoas foram retiradas sem vida do fundo da pedreira. O risco de derrocada estava identificado há, pelo menos, quatro anos, mas a estrada nunca foi cortada. O ano de 2018 termina sem que tenham sido apuradas responsabilidades.
15 de maio de 2018, o dia mais sombrio da história centenária do Sporting. A equipa tinha falhado o título nacional e um lugar na Liga dos Campeões e estava em guerra aberta com o presidente, Bruno de Carvalho. Nessa terça-feira, os jogadores preparavam-se para mais um treino, em vésperas da final da Taça de Portugal, quando foram atacados por cerca de 40 adeptos radicais do próprio clube, que invadiram a Academia de Alcochete. Bas Dost foi dos mais violentamente visados e nem Jorge Jesus escapou à ira dos ultras. Há 38 atacantes em prisão preventiva, a maioria indiciada, entre outros crimes, de terrorismo. O caso desencadeou uma onda de rescisões por parte de futebolistas e a queda de Bruno de Carvalho, destituído, sem honra nem glória, pelos sócios, que elegeram o médico Frederico Varandas para sarar as feridas dos leões. A história está longe de terminar, com Bruno de Carvalho e o líder da claque Juventude Leonina entre os 44 arguidos do processo. O Ministério Público defende que Bruno de Carvalho incentivou o ataque e acusa-o de 98 crimes, incluindo o crime de terrorismo.
Depois do pesadelo dos incêndios de 2017, que provocaram mais de 100 mortos, o fogo voltou a Portugal e, em força, à Serra de Monchique, no Algarve. As chamas deflagraram a 3 de agosto e só são dominadas sete dias depois. Galgam montes e vales, destróem tudo à sua passagem, e chegam às portas de Monchique e de Silves, deixando 41 pessoas feridas e 49 desalojadas. Centenas de moradores foram retiradas das suas casas, mas a ordem de evacuação das autoridades nem sempre foi compreendida por quem quer defender os bens de uma vida. Quinze anos depois de um grande fogo na mesma serra, o incêndio de Monchique foi, de longe, o maior do ano em Portugal e na Europa. Arderam cerca de 27 mil hectares, o equivalente a três vezes a área da cidade de Lisboa. Ainda no rescaldo de Pedrógão, o Ministério Público acusou, em Setembro, 12 pessoas de homicídio por negligência, entre as quais três autarcas da região. Pedrógão também foi notícia pela alegada atribuição indevida de fundos para a reconstrução de casas.
Falsas presenças, falsas moradas, viagens pagas de forma opaca e até um voto fantasma. O ano da Assembleia da República fica marcado por polémicas que levantam questões éticas e mesmo de legalidade. Em março, começam a ser conhecidos casos de deputados que, alegadamente, deram moradas falsas distantes de Lisboa para receberem ajudas de custo. No mês seguinte, sabe-se que deputados das ilhas pediram o reembolso de parte do custo dos bilhetes de avião, apesar de receberem 500 euros por semana para pagar viagens. A polémica que se segue é a das falsas presenças no Parlamento, que envolve o secretário-geral do PSD, José Silvano, e outros deputados do partido. O caso está a ser investigado pelo Ministério Público e, na sua sequência, o presidente da AR anunciou mudanças no sistema de marcação de presenças. Já no final do ano, soube-se do voto fantasma do social-democrata Feliciano Barreiras Duarte no Orçamento do Estado. O deputado não estava no hemiciclo, mas uma colega de bancada votou por ele, através do sistema informático.
A luta por melhores direitos laborais foi forte em 2018, com uma onda de greves em crescendo na reta final do ano. Enfermeiros e professores, juízes e funcionários judiciais, guardas prisionais e médicos, bombeiros e estivadores, comboios e metro foram alguns dos setores a paralisar e a mostrar um cartão de aviso ao Governo. Na luta contra o “apagão” no descongelamento das carreiras, os sindicatos de professores declararam “guerra” ao Governo e até levaram o caso às Nações Unidas. Uma das greves mais duradouras e com mais impacto foi a dos enfermeiros, que obrigou ao cancelamento de mais de cinco mil cirurgias (números provisórios) e que levou o Presidente da República, reconhecendo o direito ao protesto, a pedir ponderação aos grevistas.
É apenas um dos vários casos judiciais em que o Benfica está envolvido. Chamaram-lhe "E-Toupeira". Segundo o Ministério Público, Paulo Gonçalves, então assessor jurídico da Benfica SAD, solicitou a funcionários judiciais que lhe transmitissem informações sobre inquéritos envolvendo o clube e rivais, a troco de bilhetes, convites e produtos de "merchandising" do Benfica. A acusação considera também que o presidente Luís Filipe Vieira teve conhecimento e autorizou a entrega de benefícios a dois funcionários judiciais (José Silva e Júlio Loureiro). A SAD está acusada de 30 crimes: um crime de corrupção ativa, um crime de oferta ou recebimento indevido de vantagem e 28 crimes de falsidade informática. Paulo Gonçalves está acusado de 79. Dia 20 vai saber-se se há julgamento. Os restantes processos envolvendo o Benfica – do caso dos "vouchers", apensado ao caso dos emails, ao "Mala Ciao" e à operação "Lex" – encontram-se em fases mais atrasadas.
O ano da Igreja Católica portuguesa fica marcado por nomeações de peso. D. António Marto foi feito cardeal pelo Papa, um ano depois da visita de Francisco ao santuário de Fátima, para o centenário das Aparições. Francisco também chamou José Tolentino Mendonça para o Vaticano. O padre-poeta, agora arcebispo, é o novo arquivista e bibliotecário da Santa Sé. D. Manuel Linda deixou as Forças Armadas para ser bispo do Porto, após a morte inesperada de D. António Francisco dos Santos. Desde logo, prometeu "dar a conhecer Jesus Cristo" sem "programa político". Para o lugar deixado em aberto na diocese castrense foi escolhido um missionário: Rui Valério. O novo bispo das Forças Armadas e Segurança foi capelão do Hospital da Marinha e na Escola Naval, e era responsável pela paróquia de Póvoa de Santo Adrião, nos arredores de Lisboa.
Portugal não via nada assim há mais de um século. Na noite de 13 para 14 de outubro, a região Centro foi atingida em cheio pela Leslie, a maior tempestade desde 1842, com ventos que terão chegado aos 190 km/hora. Os distritos de Leiria, Coimbra e Lisboa foram os mais afetados por um temporal que provocou 28 feridos ligeiros, 61 desalojados e um vendaval de estragos de muitos milhões de euros em habitações, edifícios públicos e turísticos, viaturas e empresas. A tempestade Leslie foi responsável por 20 mil sinistros cujos danos serão ressarcidos pelas seguradoras com cerca de 45 milhões de euros. A sua passagem causou um apagão em 300 mil casas que ficaram sem energia elétrica e cerca de 50 mil sem comunicações. A Proteção Civil mobilizou 8.217 operacionais, que tiveram de responder a 2.495 ocorrências, sobretudo quedas de árvores e de estruturas e deslizamentos de terras.
No início do ano, a tragédia abateu-se sobre Vila Nova da Rainha, no concelho de Tondela, provando 11 mortos e 36 feridos. Era um sábado à noite e dezenas de pessoas participavam num torneio de sueca, na associação local, quando um incêndio tomou o piso superior e alastrou rapidamente. Por entre o fumo e a confusão, as pessoas tentaram fugir em pânico, mas ficaram bloqueadas por uma porta que só abriu com ajuda de quem estava do lado fora e veio acudir os amigos. Para muitos, foi tarde.
O FC Porto conquistou o campeonato nacional de futebol, depois de uma "seca" que durava há quatro anos. Na primeira época de Sérgio Conceição, e apesar da falta de dinheiro para contratações, os dragões conseguiram formar um grupo coeso - com destaques improváveis como Marega ou Aboubakar - e levaram o barco a bom porto: conquistaram o seu 28.º título. A festa dos adeptos foi grande, na avenida dos Aliados, reforçada pelo "gostinho especial" de terem impedido o "penta" do Benfica, marca exclusiva do FC Porto. Já a Taça de Portugal sorriu ao surpreendente Desportivo das Aves, que, no Jamor, derrotou por 2-1 um Sporting "no fundo do paço", abalado pela invasão à Academia de Alcochete. Antes, em Janeiro, os leões tinham conquistado a sua primeira Taça da Liga. Nas camadas jovens, Portugal foi campeão europeu de sub-19. A seleção venceu a Itália por 4-3, após prolongamento. O futsal também foi motivo de orgulho nacional: a seleção ergueu, pela primeira vez, o troféu de campeão europeu, depois de vencer a Espanha por 3-2.
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