Estas são as personalidades e os acontecimentos de 2018 ordenados pelos utilizadores do site da Renascença. Explore a Radiografia do ano: leia os textos, veja os vídeos.
A primeira-ministra britânica sobreviveu, a 12 de dezembro, a uma moção de censura oriunda do seu próprio Partido Conservador, depois de prometer que não se recandidatará. É o sinal mais recente do desnorte que o Brexit criou na sociedade, mas também na política britânica. Dias antes, May tinha adiado a votação na Câmara dos Comuns sobre o acordo alcançado em novembro com a União Europeia, de modo a evitar a humilhação de um chumbo. Uma nova votação está prometida para 14 de janeiro, não sem antes enfrentar uma nova moção de censura, desta feita apresentada pelo Partido Trabalhista. Incógnito é o resultado dessa votação, numa altura em que o acordo, sobretudo no que toca à questão da fronteira entre as duas Irlandas, continua sem convencer os deputados. May quer voltar à mesa das negociações com Bruxelas, mas a UE a 27 não está para novas cedências e prepara-se já para uma saída sem acordo. A governante britânica continua a lutar para salvar a face e o acordo, numa altura em que o seu próprio Governo tem sofrido várias baixas. Entretanto, há quem defenda – incluindo o antigo primeiro-ministro Tony Blair – a necessidade de se avançar com um segundo referendo.
Os vários casos de abusos sexuais na Igreja Católica, nomeadamente nos EUA, Austrália, Irlanda e Chile, levaram o Papa a escrever uma carta aberta em que admitiu “vergonha e arrependimento” pela forma como esses casos foram geridos. Francisco referia-se ao “sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas”. O Santo Padre espera que tudo se faça para “gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas”. Durante a visita apostólica à Irlanda, o Papa reuniu-se com vítimas de abusos e ficou “profundamente marcado”. Na sequência da visita, o antigo núncio apostólico em Washington, o arcebispo Carlo Maria Viganò, acusou Francisco de também não ter sido lesto na denúncia e resolução dos casos de pedofilia. A acusação do arcebispo Viganò gerou uma onda de apoio ao Papa, nomeadamente dos bispos portugueses. Já no Chile, o escândalo de pedofilia e consequente encobrimento levou à resignação dos 34 bispos do país, depois de terem sido chamados por Francisco. No âmbito do grupo de aconselhamento da reforma da Cúria, o Papa dispensou três dos nove elementos: os cardeais George Pell, Francisco Javier Errázuriz e Laurent Monsengwo Pasinya.
“Sabíamos que estávamos a mexer num ninho de marimbondos [vespas]." Foi assim que o novo Presidente angolano descreveu o combate por ele prometido à corrupção endémica no país. João Lourenço garante que coragem não lhe falta e avisa que deixou de haver “intocáveis”. Um exemplo de que os tempos estão a mudar foi a detenção de José Filomeno, um dos filhos do ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, por suspeita de desvio de dinheiro do Fundo Soberano. Lourenço chegou mesmo a receber críticos do antigo Presidente, como Rafael Marques e Luaty Beirão. Com a transferência para a Justiça angolana do caso Manuel Vicente - o antigo ministro suspeito de corromper Orlando Figueira, ex-procurador do Ministério Público português, que foi condenado a seis anos e oito meses de prisão - as relações com Portugal também mudaram. Na sua primeira visita Lisboa, em novembro, João Lourenço retribuiu as deslocações de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa a Luanda. O ambiente “desanuviou” e João Lourenço vê agora Portugal como um dos seus principais parceiros no mundo.
A direita radical e populista chegou ao poder em Itália pela mão do político anti-imigração e eurocético Matteo Salvini, líder do partido Liga, agora vice-primeiro-ministro e ministro do Interior na coligação com o MoVimento 5 Estrelas. As eleições legislativas foram a 4 de março, mas só a 1 de junho é que o novo executivo tomou posse, depois de vários meses de impasse e de negociações para a formação de Governo, liderado pelo independente Guiseppe Conte. Em outubro, ocorreu o primeiro “choque” entre Itália e a União Europeia, quando Bruxelas chumbou o Orçamento do Estado para 2019. O Governo transalpino propôs uma meta do défice três vezes superior à calculada pelo anterior executivo e as autoridades europeias não aceitaram. Depois de Conte, Luigi di Maio e Salvini terem garantido que não mexiam no Orçamento, eis que já em dezembro propuseram reduzir o défice de 2.4% para 2.04% em 2019, na tentativa de escapar a sanções e ao procedimento por défice excessivo. Se a crise não se resolver, até já se admite a realização de eleições antecipadas em Itália. Contudo, Matteo Salvini garante que são apenas “fake news”. Não é o primeiro-ministro nem pertence ao partido mais votado, mas é dele que todos falam. Foram seis meses em que esteve sempre na berlinda, quer pelas críticas aos migrantes que continuam a tentar chegar ao país, quer por atribuir culpas aos cortes da União Europeia pelo acidente em Génova, quer pelas declarações polémicas sobre a situação no Médio Oriente ou contra a globalização.
Foi um ano inesquecível para Luka Modric. O jogador croata venceu os três prémios individuais mais importantes na carreira de um futebolista, foi considerado o melhor jogador do Mundial 2018 e conduziu a sua seleção à final do torneio da Rússia, tendo sido apenas ultrapassado pela França. Em dezembro, o médio do Real Madrid foi o vencedor da Bola de Ouro, interrompendo um ciclo de 10 anos em que só venceram Cristiano Ronaldo e Leo Messi (cinco cada). A 30 agosto, conquistou o prémio de jogador do ano da UEFA. Um mês depois, a FIFA atribuiu-lhe o prémio The Best na gala que decorreu em Londres. Como se não lhe bastassem os prémios individuais, o pequeno mago ainda foi pedra decisiva para a conquista da 13.ª Liga dos Campeões do Real Madrid. Foi a terceira vitória consecutiva dos merengues na maior prova de clubes. Desta vez, a vítima foi o Liverpool, que perdeu 3-1. O herói da partida foi Gareth Bale, que saiu do banco e apontou dois golos. O guarda-redes dos reds, Karius, esteve em noite "não" e contribuiu decisivamente para dois dos três golos do jogo. A festa espanhola teve, no entanto, um sobressalto quando, ainda no relvado, Cristiano Ronaldo deixou no ar a possibilidade de deixar o clube. A notícia rapidamente se espalhou e ofuscou a conquista. O português admitiria mais tarde que, provavelmente, não deveria ter dito o que disse na altura, mas a verdade é que, semanas depois, o pior confirmou-se: CR7 ia mesmo jogar na Juventus. Antes, também o técnico do tri na Champions, Zinedine Zidane, tinha anunciado a saída do clube.
O Nobel da Paz foi atribuído a duas pessoas que estão na linha da frente da guerra contra a violência sexual. Nadia Murad, uma iraquiana da minoria yazidi, foi escravizada e vítima de abusos às mãos dos terroristas do autoproclamado Estado Islâmico, mas conseguiu escapar, voltou a erguer-se e não ficou em silêncio. Tornou-se num símbolo mundial, dedicando-se a denunciar os crimes contra as mulheres e contra a sua etnia, na tentativa de derrubar o muro de indiferença da comunidade internacional face à guerra sem fim da Síria. O outro laureado com o Nobel da Paz é Denis Mukwege, médico obstetra que passou grande parte da sua vida a ajudar vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo. Fundou um hospital em 2008 e, desde então, tratou, juntamente com a sua equipa, milhares de vítimas de violações numa guerra que já provocou seis milhões de mortos.
Este foi o ano em que finalmente ficou resolvido o caso de Asia Bibi. Depois de oito anos detida, a cristã paquistanesa viu finalmente revogada a sua sentença de morte. O Supremo Tribunal concluiu que a acusação de blasfémia não tinha fundamento. Asia Bibi foi detida depois de colegas muçulmanas a terem acusado de insultar Maomé, na sequência de uma discussão. As muçulmanas não gostaram que ela, cristã, tivesse bebido água do mesmo copo que elas. Finalmente em liberdade, as dificuldades da mãe de cinco filhos estão longe de ter acabado. A família vive escondida de ativistas islâmicos que a querem matar, enquanto aguarda que algum país ocidental aceite o seu pedido de asilo. O código jurídico paquistanês pune os insultos ao Alcorão e a Maomé com pena perpétua e de morte, respetivamente. Asia Bibi já está em liberdade, mas há vários outros casos de pessoas acusadas e detidas ao abrigo desta lei. Nunca ninguém foi executado por blasfémia, mas são vários os acusados que morreram em detenção ou que foram assassinados depois de libertados.
Cumpriu oito meses numa prisão israelita e tornou-se num símbolo maior da resistência palestiniana, no mesmo ano em que, contra os conselhos e a vontade de grande parte da comunidade internacional, os EUA de Donald Trump decidiram mudar a sua embaixada em Israel de Telavive para a disputada Cidade Santa de Jerusalém. A adolescente Ahed Tamimi, de 17 anos, ficou mundialmente conhecida depois de enfrentar e agredir com murros e pontapés um soldado israelita na Cisjordânia, um dos territórios palestinianos ocupados pelos hebraicos. Depois de cumprir a pena, Tamimi anunciou que quer estudar Direito Internacional para continuar a defender a causa palestiniana. O ano também foi de confrontos na Faixa de Gaza. Mais de 160 manifestantes palestinianos morreram. Do lado israelita, morreu um soldado baleado por um atirador do Hamas.
A Venezuela vive uma grave crise social e económica pelo menos desde 2014, mas a situação continua a agravar-se. Falta tudo, incluindo alimentos, medicamentos e muitas vezes eletricidade, mas também poder de compra por culpa de uma inflação galopante. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados calcula que mais de três milhões de pessoas deixaram o país desde 2015 e que outros dois milhões podem seguir o mesmo caminho no próximo ano. A Colômbia já acolheu um milhão de venezuelanos. Brasil, Equador e Peru têm sido os outros refúgios de quem procura melhores condições. A Portugal, especialmente à Madeira, têm regressado muitos lusodescendentes – são já mais de 7 mil emigrantes, nas contas do Governo português. O Presidente Nicolás Maduro aponta o dedo às sanções impostas pelos Estados Unidos e à guerra económica liderada por adversários políticos regionais. A ONU está no terreno e, pela primeira vez em quatro anos, ativou o Fundo Central de Resposta de Emergência para disponibilizar cerca de 8,14 milhões de euros em ajuda humanitária ao país.
Parecem cenas de um qualquer filme de espionagem, mas foram bem reais. Não há ainda todos os dados, mas os nomes Skripal e Khashoggi marcaram o ano que agora termina. Sergei Skripal, um ex-expião russo exilado em Inglaterra, e a filha sobreviveram a uma tentativa de envenenamento com Novichok, um poderoso agente químico produzido na ex-União Soviética. O Reino Unido apontou o dedo à Rússia, que negou responsabilidades. O caso desencadeou uma crise internacional que viu vários diplomatas russos serem expulsos. Na guerra pela verdade na era das "fake news", mais de 50 jornalistas foram assassinados e 251 presos em todo o mundo entre janeiro e dezembro. O caso mais mediático foi o de Jamal Khashoggi, jornalista e dissidente saudita que foi desmembrado e morto no consulado do seu país em Istambul, segundo um relatório da CIA, a mando do príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman. Na Europa, um dos bastiões da liberdade e dos direitos humanos, quatro jornalistas de investigação foram assassinados entre 2017 e 2018. Nos Estados Unidos, um homem invadiu a redação do jornal “Capital Gazette” a tiros e matou cinco pessoas. O Presidente norte-americano lamentou a tragédia, mas manteve a sua cruzada contra os jornalistas. Mais de 350 jornais juntaram-se e escreveram editoriais a condenar Donald Trump por classificar os jornalistas como “o inimigo do povo”, avisando que "os ataques verbais encorajam ideologias extremistas".
O Facebook esteve envolvido em várias polémicas este ano. A rede social confirmou que pelo menos 87 milhões de utilizadores viram os seus dados privados nas mãos da Cambridge Analytica, uma empresa de consultoria britânica que utilizou os dados sem consentimento para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores dos EUA, favorecendo a campanha de Donald Trump. O CEO da empresa, Mark Zuckerberg, prestou esclarecimentos ao Parlamento Europeu e ao Congresso norte-americano. Pediu desculpa pelo papel que a sua empresa desempenhou no escândalo da Cambridge Analytica e por permitir que notícias falsas continuem a proliferar. Meses depois o Facebook apagou 583 milhões de contas falsas e eliminou 21 milhões de mensagens de cariz sexual. Já perto do final do ano, estalou um novo escândalo potencialmente “mais grave”, nas palavras do eurodeputado Carlos Coelho: o Facebook terá dado a empresas como o Airbnb e a Netflix acesso a fotos privadas de milhões de utilizadores. Para proteger os direitos de autor na internet, o Parlamento Europeu aprovou o polémico Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), cujo artigo 13 lançou o pânico entre os youtubers e jovens portugueses.
O antigo Presidente do Brasil, Luiz Inácio "Lula" da Silva, foi preso a 7 de abril depois de se entregar às autoridades. Foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Apesar de estar atrás das grades, o histórico líder do Partido dos Trabalhadores (PT) ainda tentou recandidatar-se ao Palácio do Planalto, mas foi impedido pela Justiça numa altura em que liderava as sondagens, abrindo a porta à eleição de Jair Bolsonaro, de extrema-direita. Os casos que o têm como alvo sucedem-se. Em 2018, Lula da Silva começou a ser ouvido num outro processo em que é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sendo suspeito de ter recebido benefícios ilícitos numa quinta no interior de São Paulo como suborno para favorecer construturas em contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
O ano foi relativamente tranquilo na Europa até chegar dezembro, quando quatro pessoas morreram e várias ficaram feridas, cinco em estado grave, depois de um homem de 29 anos ter atacado o mercado de Natal em Estrasburgo, França. Chérif Chekatt, autor do atentado reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico, foi abatido pela polícia depois de 48 horas em fuga. Tinha cadastro em França e na Alemanha e o seu nome constava da “Fiche S”, a “lista negra” de pessoas que representam potenciais riscos para a segurança nacional da república francesa. As autoridades têm ainda detidos sete suspeitos de envolvimento no ataque.
Os mais votados
PERSONALIDADE