Em Alcoutim, abrir um cabeleireiro justifica fundos comunitários Em Alcoutim, abrir um cabeleireiro justifica fundos comunitários Em Alcoutim, abrir um cabeleireiro justifica fundos comunitários

Não há um sapateiro, um mecânico, uma bomba de gasolina. E quase não há pessoas. Alcoutim foi dos sítios que perdeu mais gente e é o mais envelhecido do país. Hoje como antes, o concelho raiano vira-se para o Guadiana para tentar resistir ao fado da desertificação. A resposta pode estar no turismo.

Catarina Santos
 
 

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É uma sorte que já não se pague “roaming” na União Europeia. Quando se chega à Pousada da Juventude de Alcoutim, o telemóvel anula os escassos metros do leito do Guadiana e assume de imediato que estamos em Espanha. Perde-se uma hora assim num ápice. Não é grave. Em Alcoutim tudo convida a que se abrande o relógio.

De noite, ouvem-se cães e badalos de ovelhas do outro lado, muito perto. As cigarras parecem ligadas a amplificadores escondidos nos arbustos. O sino toca em Sanlúcar de Guadiana e, não fosse a ausência de uma ponte há muito planeada, chegava-se em menos de nada ao adro dessa igreja, encaixada numa cascata de casas brancas.

Há veleiros estacionados no meio do rio, a ajudar a compor o quadro romântico. Por cima de tudo isto, as estrelas brilham como só é possível no interior do país. A qualidade de vida parece difícil de bater – para quem consegue fazer cá vida. Alcoutim é uma terra privilegiada no cenário, mas amaldiçoada pelas circunstâncias de um país para lá de desequilibrado.

Os números da Pordata dizem-nos que o concelho do interior algarvio tem o mais baixo valor de densidade populacional do país e que registou a segunda maior descida entre 2009 e 2015. Tem hoje pouco mais de 2.500 residentes , quando tinha cerca de 10 mil por volta de 1950. Tem o maior número de idosos (650 por cada 100 jovens). É um símbolo marcado da desertificação no interior do país.

 
 
 
 

Há quem passe os dias com estes números à frente, a tentar desenhar estratégias para os contrariar. E, por vezes, esse caminho pode passar por algo aparentemente tão insólito como canalizar fundos comunitários para a abertura de um cabeleireiro.

Ricardo Bernardino é coordenador da equipa técnica do Grupo de Acção Local (GAL) de Terras do Baixo Guadiana, uma estrutura sediada em Alcoutim que gere a atribuição de fundos da União Europeia a projectos para a região, através do programa LEADER. Desde 2002 garantiu o apoio a “cerca de 230 ou 240 projectos”, “cerca de 16 milhões de euros” de fundos públicos.

Um dos beneficiários foi o salão de cabeleireiro e estética Sara Rita. Custou pouco mais de 9 mil euros e recebeu cerca de 3.600 euros de apoio. Projectos “que noutra zona do país não fariam muito sentido aqui fazem”, sublinha Ricardo Bernardino.

Em Alcoutim, o salão era uma necessidade e “permitiu fixar uma família de jovens, que, entretanto, já têm filhos e que vão contribuir para o desenvolvimento deste território”. No concelho, “nascem apenas duas ou três crianças por ano”.

 
 
Ricardo Bernardino, coordenador do Grupo de Acção Local do Baixo Guadiana, avisa: “corremos o risco de daqui a meia dúzia de anos não termos população nesses territórios, simplesmente”
Ricardo Bernardino, coordenador do Grupo de Acção Local do Baixo Guadiana, avisa: “corremos o risco de daqui a meia dúzia de anos não termos população nesses territórios, simplesmente”
 
 

O turismo rural tem sido outra aposta, bem como “a animação turística relacionada com o rio, a restauração, os produtos locais, a área agrícola”. Apoios que têm contribuído para “inverter um pouco ou, pelo menos, para travar este processo de desertificação”. Mas que não fazem milagres só por si.

A região tem “um tecido económico bastante deficitário, há muito poucas empresas”, sistematiza. “Se nada for feito, a nível central, nos próximos anos” e se não se “olhar para o interior de uma forma séria”, sentencia, “corremos o risco de daqui a meia dúzia de anos não termos população nesses territórios, simplesmente”.

 
 

“Para envelhecer, nunca nenhum
sítio é bom”

Entrando na vila pelo lado norte, encontra-se logo ali à direita quem tenha visto esta transformação do concelho da primeira fila. António Marques Martins tem 89 anos e confirma que a sua freguesia, ali perto, já não tem “nem metade das pessoas que tinha há 20 anos”.

Memorizou medidas exactas para comparar o que ficou lá atrás: lembra-se de ir à inspecção “com 44 rapazes”; lembra-se do seu tempo de agricultor, quando “chegaram a trazer 42 mulheres apanhando azeitonas”; lembra-se de trabalhar numa herdade que “chegou a colher mil arrobas de amêndoas”.

Agora, António frequenta o centro de dia da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcoutim. De noite regressa para casa do filho. Toma tantos medicamentos que já não pode beber aquele copinho de tinto “que tem mais sabor e dá mais cor”. A culpa disto tudo? “É do tempo: é só para a frente, até que dá cabo da gente.”

 
 
Joaquina sempre viveu no concelho. Custódio saiu e voltou. “Corri tudo, tudo, tudo, mas o meu destino foi sempre Alcoutim"
Joaquina sempre viveu no concelho. Custódio saiu e voltou. “Corri tudo, tudo, tudo, mas o meu destino foi sempre Alcoutim"
 
 

Ali ao lado, no átrio interior do edifício, Joaquina Maria Roberto demora a alinhar o andarilho com a cadeira e depois atira-se pesada para o assento, de onde só sairá por motivo de força maior. “Eu já não gosto de fazer nada, é comer e dormir”, diz-nos, entre risos, quando lhe perguntamos como ocupa o tempo. Vive “há pouco mais de um ano” no lar da associação. Tem “84 ou 85” anos, não se lembra bem. “Os meus filhos é que têm apontado”.

Os filhos estão espalhados por Faro, Vila Real de Santo António, Vilamoura. É natural de Guerreiros do Rio, a “duas léguas” (oito quilómetros) de Alcoutim. Quando era pequena, “havia muita gente”, agora “já quase não há ninguém”. Uns foram embora, “outros têm morrido”.

Custódio da Palma também tinha casa em Guerreiros do Rio e também vive no lar de Alcoutim. Senta-se à porta a aproveitar a sombra, enquanto recorda os longos anos em que engrossou as estatísticas dos que saíram do concelho para trabalhar.

A vida de agente da PSP levou-o a Lisboa, Faro e Vila Real de Santo António. “Corri tudo, tudo, tudo, mas o meu destino foi sempre Alcoutim”. Estranha que perguntemos porquê, franze a testa e dá a resposta que lhe parece óbvia. “Porque sou alcoutenejo.”

Aos 87 anos, entristece-o ver a terra cada vez mais despovoada. “A vida de Alcoutim não tem mesmo, mesmo, mesmo solução nenhuma para efeitos de progresso.” É pelo menos um bom sítio para envelhecer? Ri-se e despacha-nos com um tom sarcástico. “Para envelhecer, nunca nenhum sítio é bom. Isso está de caras”.

Andreia Silva discorda. Lida diariamente com o desânimo de muitos idosos como o senhor Custódio, mas acha que Alcoutim oferece uma qualidade de vida incomparável e, aos 35 anos, já faz planos para um dia gozar a reforma ali.

 
 
Ana e Andreia valorizam sobretudo a qualidade de vida no concelho, mas preocupa-as a fraca oferta na saúde e transportes
Ana e Andreia valorizam sobretudo a qualidade de vida no concelho, mas preocupa-as a fraca oferta na saúde e transportes
 
 

É directora técnica de centro de dia e apoio domiciliário na associação dos bombeiros e faz um resumo demográfico do concelho apenas numa frase: “Temos uma média de 120 idosos a frequentar as várias respostas sociais e, em contrapartida, crianças temos 30.”

Andreia vive em Tavira e demora todos os dias cerca de uma hora na deslocação para o trabalho. Está a pensar mudar-se para Alcoutim e na sua lista quase só cabem “prós”.

A oferta em termos de saúde é um dos poucos “contras”. No centro de saúde de Alcoutim só há médico “nalguns períodos e nalguns dias” e, se alguém tiver um problema grave, tem de percorrer “no mínimo 30 quilómetros” para Vila Real de Santo António. “E muitas vezes daí ainda têm de ir para Faro, que são mais outros 40 quilómetros.”

Outro aspecto negativo que aponta é a rede de transportes. “Há pessoas no concelho que querem trabalhar e estão limitadas pelo facto de não terem carta.” A rede “existe, mas é só de manhã e à tarde”, acrescenta Ana Rodrigues, que aos 29 anos é engenheira alimentar na instituição.

Ana nasceu e cresceu em Alcoutim, estudou fora e regressou. “Claro” que colocou a hipótese de sair, diz-nos. “Fui dos poucos casos que conseguiu arranjar emprego” na terra.Os dados dizem que Alcoutim teve o segundo maior crescimento da taxa de desemprego entre 2009 e 2016, 158%.

Diz que só sente falta de mais “movimento e agitação”, mas procura sair ao fim-de-semana para outros locais com mais oferta. “Acho que a câmara deve puxar para que as pessoas venham para cá morar”, afirma.

Mesmo que tenham de trabalhar fora, “que se fixem cá” e que tragam “mais movimento”. E com o movimento, esperam ambas, virão supermercados e outros serviços que só se instalam quando há população que compense.

 
 
Sanlúcar de Guadiana visto do castelo de Alcoutim
Sanlúcar de Guadiana visto do castelo de Alcoutim
 
 

Não há um sapateiro, um mecânico,
uma bomba de gasolina

Não é difícil pensar em serviços que fazem falta a quem vive no interior do país – uns porque vão fechando, outros porque nunca foram criados. Em Alcoutim, o que falta é, por vezes, para lá de básico. Não há um sapateiro, uma oficina de mecânica ou uma bomba de gasolina. Não há um cinema, uma sapataria, um pronto-a-vestir.

“Inverter este processo não é tarefa fácil”, desabafa Ricardo Bernardino. Os escritórios do GAL ficam a uns passos do lar de idosos e o coordenador da equipa parece absorver todos os lamentos que se concentram na vila.

Um dos maiores problemas apontados pelo técnico são os acessos. “Estou convencido de que se melhorarmos as acessibilidades, se o IC27 for construído e fizer a ligação a Beja como está previsto, se a ponte internacional de Alcoutim fosse construída, iria dar um contributo bastante importante para trazer mais pessoas para o território”, afirma.

Sem essas vias “as próprias empresas também não se vêm estabelecer no território, porque isso vai-lhes criar dificuldades de distribuição”. E falar de acessibilidades por aqui não é necessariamente significado de alcatrão. Nesta zona, a via de ligação por excelência foi durante muito tempo o Guadiana, que precisa de uma intervenção no caudal para ser navegável numa maior extensão, entre a foz, em Vila Real de Santo António, e Mértola.

Ouvimos Ricardo Bernardino explicar como o tempo corre contra Alcoutim e lembramos o aviso do sr. António no lar de idosos: “O tempo é só para a frente, até que dá cabo da gente”. Já sobra pouca margem. Para inverter o definhar de Alcoutim, tem de ser no imediato, avisa Ricardo Bernardino. “As pessoas são tão poucas que se corre o risco de atingir uma escala em que pouca coisa se começa a justificar e corre-se o risco de se perderem alguns serviços públicos.”

 
 
 
 

E há já alguns com uma espada por perto, que há anos ameaça cair. “A escola, que tem 40 ou 50 alunos, tem-se conseguido manter com alguma dificuldade; a estação de correios irá manter-se não se sabe bem até quando; o serviço de finanças a mesma coisa.”

O técnico do GAL é natural de Mértola, trabalha em Alcoutim e vive em Vila Real de Santo António. A sua vida segue na perfeição o curso do Baixo Guadiana. “É preciso fazer alguma coisa urgentemente, enquanto ainda temos pessoas.”

 
 

30 crianças dos seis meses aos seis anos

Aninhado no emaranhado de ruas estreitas do coração da vila, o centro infantil A Joaninha é como um oásis. Um escape de esperança.

Trabalhar com “o outro extremo” da pirâmide envelhecida do concelho é “trabalhar com vida, com aquilo que está a crescer”, “uma responsabilidade ainda maior”, diz Célia Rodrigues, coordenadora pedagógica.

No único jardim-de-infância da vila podiam caber 50 crianças, mas nunca passam muito das 30. “É um grupo muito pequeno para um concelho tão grande”, diz a educadora de infância.

Matilde tem quatro anos e, visto da sua perspectiva, Alcoutim é um lugar enorme e que se descreve com muitos plurais. Há “casas, carros, vilas e restaurantes e cafés, rios e barcos”. O melhor da terra? “Os meus brinquedos”. Os pais trabalham “no computador” e Matilde já está ansiosa que chegue o fim-de-semana para poder “passear” e ir “às compras em Tavira”.

 
 
Matilde tem quatro anos e não se queixa de falta de amigos para brincar, na escola e perto de casa
Matilde tem quatro anos e não se queixa de falta de amigos para brincar, na escola e perto de casa
Matilde tem quatro anos e não se queixa de falta de amigos para brincar, na escola e perto de casa
 
 

Para Matilde, fazer uma hora até Tavira é um motivo de alegria. Para os adultos é uma necessidade. Há apenas um minimercado na Vila. Carne e peixe frescos só ao sábado, no mercado. Todas as compras maiores têm de ser feitas pelo menos a 30 quilómetros. E por vezes até as mais pequenas. “Às vezes, nem uma caixa de lápis nós podemos comprar aqui e isso acaba por se reflectir no nosso trabalho”, conta a educadora Célia.

Aos 26 anos, nascida em Alcoutim, Célia encontrou o raro emprego que lhe permitiu voltar, depois de estudar em Faro. Viu a maioria dos antigos colegas de escola saírem e só “dois ou três, de um universo de 20 ou 30” conseguiram voltar.

“Existe muita falta de emprego, muitos estão noutras áreas de emprego em que não podem trabalhar aqui e acabam por sair”. Em Alcoutim, trabalha-se na câmara, na associação dos bombeiros, que emprega Célia, Ana e Andréia, “e pouco mais”.

Célia sabe que teve sorte, mas também ela vai partir. Faltam recursos e hipóteses de continuar a formação académica que lhe permitam assentar vida na vila.

Ainda assim, Célia recusa-se a acreditar que Alcoutim vai definhar até não existir, desde que haja “uma chamada maior” dos jovens, “criação de novos postos de trabalho, mais formação, projectos universitários cá ou parcerias com a Universidade do Algarve… Coisas que façam com que os jovens queiram mudar-se para cá”.

É no que pensa quando olha para as 32 crianças que circulam nas várias salas do centro, dos seis meses aos seis anos. “É vida que está a crescer dentro do concelho, são crianças que vão ser adolescentes e queremos que sejam jovens com objectivos de vida e capacidade para se formarem, mas para voltarem com essa formação. Não perspectivo para eles que continuem cá neste registo de envelhecimento, mas que consigam vir cá fazer alguma coisa”.

 
 
Maria conta que o que mais gosta em Alcoutim é de comer gelados na praia fluvial. A educadora, ao seu lado, não deverá ficar muito mais tempo na vila
Maria conta que o que mais gosta em Alcoutim é de comer gelados na praia fluvial. A educadora, ao seu lado, não deverá ficar muito mais tempo na vila
Maria conta que o que mais gosta em Alcoutim é de comer gelados na praia fluvial. A educadora, ao seu lado, não deverá ficar muito mais tempo na vila
 
 

Turismo, a bóia de salvação

A palavra que Ricardo Bernardino mais repete enquanto tenta pensar numa saída é “turismo”. Muito perto do GAL, mesmo ao fundo da rua, fica um bom exemplo em contraciclo com o fado do concelho. O hotel D’Alcoutim esteve fechado vários anos, reabriu em Março e teve um Verão promissor, com a “lotação quase completa”.

Foi remodelado, tem duas piscinas de água salgada e uma vista privilegiada para o rio e para a vizinha Sanlúcar. João Luís, responsável pelo empreendimento, diz que a maioria dos clientes são portugueses, mas vão tendo já “muitas outras nacionalidades” hospedadas.

“A intenção foi abrir o espaço e trazer mais pessoas para Alcoutim. Trabalhamos com vários nichos de mercado - com caçadores, com pessoas que vêm observar aves, pessoas ligadas à natureza”, diz o responsável pelo D’Alcoutim, que é de Mértola e tem lá outros dois hotéis. Confia que há forma de dar a volta ao ciclo de despovoamento da região, que “tem muito para oferecer”.

Percorremos a estrada central da vila até ao cais e vemos chegar um dos barcos que faz a ligação a Sanlúcar de Guadiana, por 1,50 euros. Jackie Webb é uma das passageiras que sobe a rua e se senta num banco de rua, em frente à capela. Vive em Málaga, mas o sotaque britânico aguçado denuncia que veio de mais longe. Há 28 anos, trocou o sul de Inglaterra pelo sol de Espanha e não olhou mais para trás. “Umas férias em Espanha e estava feito. Aí viemos nós.”

Jackie e o marido vieram pela primeira vez para a região do Guadiana há três semanas, “para experimentar a tirolesa” – um cabo aéreo que liga o castelo de Sanlúcar a Alcoutim e que se vende como “a única tirolesa transfronteiriça do mundo”.

 
 
Turistas chegam ao cais de Alcoutim, vindos de Sanlúcar do Guadiana
Turistas chegam ao cais de Alcoutim, vindos de Sanlúcar do Guadiana
Turistas chegam ao cais de Alcoutim, vindos de Sanlúcar do Guadiana
 
 

Gostaram da experiência e voltaram agora para a repetir com outros amigos. Estão alojados em Espanha e ainda não conhecem bem a margem portuguesa do rio, mas as primeiras impressões dizem a Jackie que “poderia ser feito mais em termos de oferta turística”. Ficou desiludida por encontrar “tudo fechado”. “Queria um pastel de nata, que comi da última vez, e ninguém os está a vender”.

A ressaca das festas do concelho, no segundo fim-de-semana de Setembro, somadas ao fim da época estival, são o motivo que os locais apontam para que grande parte dos escassos restaurantes e cafés do centro da vila estejam fechados por esta altura.

Mas nem só de turistas ocasionais se compõe o cenário multilíngue de Alcoutim. Há um fenómeno no Guadiana que vai contribuindo com novos moradores. “Há muitos veleiros que estão parados no rio todo o ano, de ingleses, holandeses, franceses, e alguns já começaram a comprar cá casa. Alguns já conheciam Alcoutim por estarem no barco há muitos anos”, conta Ricardo Bernardino.

Têm contribuído para recuperar algumas casas “que estavam em estado devoluto”. São sobretudo reformados, “que vêm para cá devido ao clima e à segurança, passar os últimos anos de vida”.

Uma consulta dos dados estatísticos poderia fazer perigar esse factor de atracção ligado à segurança. Foi ali, naquela terra quase sem gente, que mais cresceu a taxa de criminalidade por 1000 habitantes (subiu 149% entre 2011 e 2016 ). Mas a crueza dos números é, por vezes, enganadora e a justificação está mais na intensificação da fiscalização do que no aumento propriamente dito dos crimes.

O que acontece, explica Edgar Palma, comandante do destacamento territorial de Tavira, é que os dois postos da GNR do concelho “desde há cerca de quatro anos começaram a ser comandados por sargentos” e isso levou a uma “maior proactividade no trabalho da guarda, assim como houve um incremento das fiscalizações rodoviárias”.

A maioria dos crimes registados e que fez Alcoutim disparar na tabela nacional tem a ver com a “detenção de condutores sob influência de bebidas alcoólicas e também condutores que foram detectados sem a habilitação legal para poderem fazer a condução de veículos”.

 
 
Estátua do contrabandista recorda o passado da região raiana
Estátua do contrabandista recorda o passado da região raiana
Estátua do contrabandista recorda o passado da região raiana
 
 

Há várias décadas, o Guadiana alimentou o contrabando, a pesca, o transporte de minérios. Há estátuas na beira do rio que contam essa história, evidenciando as figuras do contrabandista, do guarda fiscal, dos pescadores. Hoje, a fronteira já não instiga a ilegalidade e aquelas águas inspiram mais o recreio que o trabalho. As gentes raianas aprenderam há muito a não contrariar o curso do rio. Se é para o turismo que ele corre, é por aí que se vai tentar resgatar Alcoutim.


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