Lamentamos, mas o seu browser não suporta a tecnologia usada nesta página

Para uma melhor experiência de leitura, recomendamos a utilização

Internet Explorer 9 Google Chrome Mozila Firefox Safari

Para uma melhor experiência de leitura, recomendamos ecrãs iguais ou superiores a 7".

Sofia tem duas licenciaturas e nenhum emprego, apesar de nunca ter deixado de trabalhar para poder estudar. Quando acabou os estudos, e estava finalmente pronta para se dedicar apenas ao trabalho (e seguir a sua vida), foi apanhada pela "crise". Duas vezes. Uma por cada curso que tirou: Jornalismo e Serviço Social.

Primeiro, foi no "Jornal de Odivelas", onde começou por estagiar e acabou a ser a única jornalista da redacção. Por causa de "problemas financeiros", o salário foi-se atrasando e os atrasos foram-se acumulando. Como estava a estagiar ao mesmo tempo num lar, deixou o jornal, que fechou pouco depois.

No lar, o estágio profissional chegava ao fim e tudo indicava que Sofia ia ficar. Mas os "problemas financeiros" voltaram e ela, simples estagiária, foi das primeiras a partir. Estávamos em 2012, Sofia tinha 27 anos e estava habituada a trabalhar "de segunda a domingo", como gostava de dizer, na brincadeira.

Desde então, nunca mais conseguiu arranjar um trabalho fixo. Viveu um ano e meio com o subsídio de desemprego, que acabou em Janeiro. Se no princípio procurava anúncios de emprego relacionados com as suas áreas, agora procura em todas e "aceitaria qualquer coisa".

Já trabalhou num "call center", em lojas, em eventos. Tudo trabalhos temporários. Quando descobriu que havia formações destinadas a desempregados, voltou a preencher os dias com uma rotina maluca, tanto quanto é possível quando não se tem emprego. Em Novembro, chegou a estar das nove da manhã às 11 da noite a fazer formações.

Um futuro que nunca chega a ser presente

Sofia vive com a mãe, em Odivelas, numa casa que partilham com seis gatos. Os animais são uma paixão que passou da mãe para a filha. Em casa delas, tudo faz lembrar os membros de quatro patas da família. A entrada dá para um corredor onde estão penduradas fotografias de todos os gatos que por ali passaram (nove, ao todo). No sofá da sala, há uma almofada especial com as fotografias de todos. Na janela, à volta da televisão, nos armários com portas de vidro, os bonecos com formas felinas multiplicam-se.

Este é o mundo de Sofia. E ela não quer abdicar dele.

O que ela queria, já há algum tempo, era ter um emprego, casar-se, ter filhos, estudar mais e, quem sabe, viajar. Mas sente esse tempo a passar e ela, parada, sem poder caminhar em direcção ao futuro com que sonhou.

Está presa na "ginástica mensal" que faz todos os meses para dividir a reforma de mil euros da mãe por todas as necessidades das duas, a começar na renda da casa e a acabar no passe que só Sofia é que tem para poder ir às entrevistas.

Nas contas que faz todos os meses, não gosta de incluir os números do desemprego. "Nunca fui muito de ligar às estatísticas. Não nos podemos, de modo algum, prender a isso. Senão, acordamos com vontade de voltar para a cama e de deixar que isto passe. Como se se tratasse de uma tempestade".

Este é o mundo de Sofia, e, mesmo assim, ela tem esperança.

A maior parte dos anúncios de emprego que vê são para estágios, que já não pode fazer, ou para trabalhos em que os 500 euros são a oferta habitual. Não são razões para deixar de sorrir. "Posso dizer que estou confiante em 2014. Tenho tido mais entrevistas. Às vezes são para 'empregos duvidosos', mas mesmo assim, tenho ido. Estou com fé neste ano", diz.

Nota: depois desta entrevista, Sofia arranjou um trabalho a tempo parcial num quiosque de uma superfície comercial.

Voltar ao início