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Aos 19 anos, Regina está a tirar dois cursos ao mesmo tempo. E não se pode dizer que são dois cursos fáceis. Não foi nada planeado, simplesmente aconteceu. Medicina e Economia. O primeiro é o que sempre quis. O segundo foi uma paixão que descobriu quando não conseguiu entrar em Medicina.

Mesmo assim, um ano depois, voltou a tentar. Desta vez, entrou na Faculdade de Medicina de Lisboa, mas com um ano completo em Economia e com apenas mais dois por fazer, achou "uma parvoíce" deitar tudo a perder. O melhor era acumular.

Os seus dias dividem-se como os livros na estante escondida por trás de umas portas brancas no canto do quarto impecavelmente arrumado de Regina (ela não concorda com a palavra "arrumado" para descrever o quarto, mas partimos do princípio de que o que está dentro dos armários está fora do âmbito desta reportagem).

Começa o dia com a prateleira de cima, onde estão o Atlas da Anatomia Humana, o livro da Enzimologia Básica e o dossiê dos morangos. À tarde, arruma-os e pega nos manuais da prateleira de baixo, nos dossiês de capa branca onde escreveu "Econometria" e "Macro I" e por baixo desenhou um coração.

Encontramo-la em casa, numa segunda-feira de manhã. Acabou recentemente uma época de frequências de Medicina e, por isso, está temporariamente com as manhãs livres. Fala descontraidamente do seu dia-a-dia, e quase que nos faz acreditar que as duas licenciaturas se conciliam facilmente.

A geração mais bem preparada

Regina sabe que quem tem hoje 20 anos tem de estar preparado para tudo. Entre os amigos, nota que todos se esforçam por "serem diferentes", tentam juntar a formação e a experiência certas ao currículo para conseguirem emprego no país da família e dos amigos. Por causa disso, considera que faz parte da "geração mais bem preparada de todas".

Mas esta é também a geração dos jovens que não têm emprego e que têm de sair do país. Portugal perdeu mais de 107 mil pessoas com menos de 34 anos na população activa entre 2012 e 2013 (dados do INE divulgados em Fevereiro). O principal factor que justifica esta baixa é a emigração.

135 000
Número de inscritos no centro de emprego com menos de 25 anos. Dados de Março. Mais seis mil do que em Janeiro. Portugal é o terceiro país da OCDE com mais desemprego entre os jovens.
Fonte: Comissão Europeia.

Na geração da Regina, todos se esforçam para serem diferentes, mas nunca falam sobre isso. Falar torna o medo real. O receio do futuro é o que mais a assusta. Mais do que saber se vai seguir Medicina ou Economia, gostava de saber se vai conseguir encontrar um emprego. De que goste. No seu país.

Pertence a uma geração, como diz, "pronta para partir". Mesmo assim, gostava de não ter de ser ela a experimentar a sorte lá fora. Em 2024, Regina gostava de estar a trabalhar, em Portugal. Mas a rapariga que faz parte da geração "mais bem preparada de todas" acredita que o futuro está nas mãos do acaso. "É uma questão de estar no momento certo à hora certa e pronto. E venha o que vier", diz.

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