Até que ponto estamos protegidos?
 

Privacidade “online” Até que ponto estamos protegidos? Até que ponto estamos protegidos? Até que ponto estamos protegidos?

Quando navegamos na Internet, deixamos um rasto atrás de nós: informação sobre os sites que visitamos, quanto tempo lhes dedicamos, em que conteúdos clicamos, os termos que pesquisamos. Esses dados são preciosos para muitas empresas, que garantem sempre salvaguardar os nossos dados pessoais. Mas estaremos mesmo protegidos?

Inês Rocha e Joana Bourgard
 
 

O direito à privacidade é considerado um direito fundamental dentro da União Europeia e foi para o proteger que, a 27 de abril de 2016, o Parlamento Europeu aprovou o novo Regime Geral de Proteção de Dados (RGPD), que entra em vigor esta sexta-feira.

Mas no tempo das redes sociais e dos “data brokers”, sabemos Até que ponto estamos protegidos?

Em 2014, Madhumita Murgia, correspondente do Financial Times no Reino Unido e ex-repórter da revista Wired, procurou saber até onde ia a sua exposição online. Na sua investigação, percebeu que, apesar de não registarem o seu nome, uma série de empresas sobre as quais nunca tinha ouvido falar tinha chegado a um perfil muito pormenorizado sobre si, com base nos seus comportamentos online.

Através da Eyeota, uma empresa com escritórios em Singapura, Berlim, e Sidney, especializada em desenhar perfis com base na análise de Big Data, a repórter inglesa conseguiu saber quais os dados que estas empresas online tinham recolhido sobre si: idade, raça, código-postal, códigos-postais onde viveu antes, locais onde faz compras, locais onde passou férias nos últimos anos, salário anual, onde costuma passar os fins de tarde, que tipo de comida mais gosta, a importância que dá à família, entre outros dados.

 
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A Eyeota chegou a estes dados através de cookies presentes em vários websites parceiros e comprando também dados à Experian, um dos maiores “data brokers” mundiais (que, até abril deste ano, tinha acesso a dados de utilizadores do Facebook, uma parceria que foi suspensa devido ao escândalo com a Cambridge Analytica).

Tal como a Eyeota, muitas outras empresas vivem do negócio dos dados em todo o mundo. Segundo a The Economist, os dados já ultrapassaram o petróleo como recurso mais valioso do planeta.

E apesar de, na sua maioria, estes dados serem anonimizados antes de vendidos, eles não são tão anónimos como parecem.

 
 

“Há uma vulnerabilidade inerente à própria rede. Por muito que o sistema tecnológico se desenvolva, não conseguimos reduzir essa vulnerabilidade a zero”.

 
 

Em fevereiro de 2017, um estudo das universidades de Princeton e Stanford provou que dados anonimizados, tirados do histórico de browsers, podem ser facilmente ligados a perfis públicos de redes sociais, usando apenas dados públicos.

Uns meses mais tarde, em agosto de 2017, uma jornalista e um cientista de dados criaram uma empresa de marketing falsa, na Alemanha. Os investigadores conseguiram facilmente obter dados de três milhões de utilizadores e identificar vários deles, cruzando os dados com uma lista de URLs.

Já em 2000, Latanya Sweeney, diretora do Data Privacy Lab na Universidade da Harvard, Estados Unidos, tinha provado que a data de nascimento, código postal e sexo eram suficientes para permitir a identificação de 87% dos americanos.

Uma vulnerabilidade impossível de eliminar

“A partilha de dados em rede aberta é, por natureza, vulnerável”, explica Jorge Silva Martins, da PLMJ, à Renascença. “Há uma vulnerabilidade inerente à própria rede. Por muito que o sistema tecnológico se desenvolva, não conseguimos reduzir essa vulnerabilidade a zero”

Porque é que a privacidade só se torna um tema importante para as pessoas quando há uma violação de dados pessoais? “Porque para o utilizador é difícil ir atrás dos seus dados e saber o que é feito com eles”, explica o especialista em Direito na Internet. “Quando há um escândalo como o caso Cambridge Analytica, as pessoas percebem que estão vulneráveis”.

No entanto, o advogado acredita que é possível mitigar os riscos. Foi para isso que o Parlamento Europeu aprovou o novo Regulamento Geral de Proteção de Dados, há dois anos. Mas conseguirá o tão aguardado acordo promover uma maior “cultura de privacidade” na Europa?

 

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