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A comparação é simplista, mas pode ajudar a compreender o papel dos faróis. Hoje, a maior parte das pessoas tem acesso a um GPS no telemóvel e facilmente consegue encontrar as instruções de que precisa para chegar a um certo lugar. Mas imagine ter de seguir as indicações do GPS com os olhos fechados. É assim o mar, à noite, sem a luz dos faróis.

Desde as antigas fogueiras às modernas luzes LED, o papel dos faróis e dos faroleiros tem vindo a transformar-se. Há umas décadas, um faroleiro precisava de activar um mecanismo de duas em duas horas para que o farol funcionasse. Actualmente, o sistema está quase todo automatizado, mas a profissão de faroleiro continua a ser fundamental, garante o director dos Faróis, o capitão de mar-e-guerra Ventura Soares.

O que é um capitão de mar-e-guerra?

É um posto na Marinha de Guerra, que, curiosamente, no mundo não tem tradução nenhuma especial. É equivalente ao "captain" do inglês e ao "capitaine de navire" francês. Apenas os brasileiros usam exactamente a mesma terminologia que existe desde o século XVIII. Tinha a ver com os comandantes das naus que se deslocavam e tinham responsabilidades da parte guerreira, para além das responsabilidades de navio. O nome vem daí.

Alistou-se na marinha aos 17 anos e desde então sempre teve uma carreira ligada ao mar. Para quem está no mar, o que significa ver um farol?

O farol deve representar para quem anda no mar um factor de segurança, de ajuda. O farol sempre foi o elo de ligação entre quem está no mar, sujeito às intempéries, e a costa, onde por natureza o ser humano habita, a terra.

O farol tem esse papel simbólico da ligação do ser humano, que vive em terra, com o mar, onde desenvolve actividade (comercial, de pesca, de segurança, o que quer que seja). Faz essa ponte. Atribuo um grande simbolismo ao farol como um ponto de cultura marítima, que deve ser preservada por um país que se diz virado para o mar e que quer desenvolver a sua cultura marítima.

Com tantos avanços na navegação electrónica, os faróis continuam a ser essenciais?

As luzes dos faróis são ainda cruciais para garantir a segurança no mar. Porque, além de serem um meio redundante aos meios electrónicos, há ainda algum tipo de embarcações, nomeadamente as mais pequenas, como as que se dedicam à pesca e ao recreio, que, muitas vezes, não têm capacidades a nível de navegação electrónica a bordo. Por isso, o farol, além de ser um segundo recurso para quem usa os meios electrónicos, para determinado tipo de embarcações mais pequenas e mais junto à costa, continua a ser a única referência da costa, durante a noite.

Não serão, por isso, um meio ultrapassado daqui a uns anos?

Não vejo o farol a desaparecer como farol, mas vejo o farol a ser cada vez mais um centro de serviços marítimos. Em que há uma estrutura que mantém o apoio aos navegantes em termos luminosos e electrónicos, e, simultaneamente, aproveita a localização em pontos importantes e relevantes na costa para usar os faróis para outras finalidades.

Permite usar os faróis para observação meteo-oceanográfica, em termos de ventos, de observações no mar, já que está em sítios conspícuos na costa. Permite usar os faróis como centros de cultura marítima que possam ser pólos de atracção para outros interesses que se associam ao mar, mas não dizem respeito apenas à questão da segurança marítima. Também podem ser usados como centros de turismo marítimo.

Quando fala de turismo marítimo, está a falar de transformar os faróis em locais de alojamento?

Estou a falar de alojamento. Coisa não de muito grande dimensão, mas de um nicho que pode ser interessante. Já temos estabelecido contactos com alguns operadores turísticos no sentido de se avaliar se isso pode ser feito, dado que isto não é novidade. Há muitos países em que isso já acontece.

Também a própria profissão de faroleiro terá que se adaptar…

A sua missão principal é garantir que a luz funciona. Mesmo que haja mecanismos automáticos. Por exemplo, se uma luz se fundir, todos os faróis têm um mecanismo automático que substitui a lâmpada. Ora, nessa parte, o faroleiro apenas controla de perto essa situação.

Mas os faroleiros têm de garantir que todos os sistemas estão a funcionar. Nós usamos cada um dos faróis como um centro logístico de apoio directo a todos os farolins que estão naquela área geográfica. [A Direcção de Faróis controla 53 faróis no país inteiro, mais 400 farolins ou outro tipo de ajudas à navegação. A maior parte destes farolins não pertencem ao Estado, mas fazem parte de serviços contratualizados de apoio técnico.]

Os nossos faroleiros são pessoas com um largo espectro de formação, que vai da electrotécnica, da mecânica, até à construção civil. Todas aquelas pequenas reparações que é necessário fazer são feitas pela própria estrutura do farol.

Esta multidisciplinariedade dos nossos faroleiros garante que os custos, em termos de manutenção, sejam mais reduzidos.

Qual é o orçamento da Direcção de Faróis?

Funciona, em números redondos, com 500 mil euros por ano. Estamos a falar de um orçamento de funcionamento, que não inclui os salários do pessoal, que são pagos pela Marinha. Mas os 500 mil euros são aquilo que o país avança para que esteja um sistema a funcionar.