Radiografia 2021

Personalidade do ano


Henrique Gouveia e Melo. A personalidade do ano 2021 para a Renascença é um homem que não acredita em “sebastianismos” ou salvadores da pátria, mas foi fundamental para o sucesso da vacinação contra a Covid-19. O vice-almirante assumiu os comandos da “task force” após a demissão de Francisco Ramos, devido a inoculações indevidas. A vacinação começou com polémicas e ziguezagues, mas Gouveia e Melo colocou o processo nos carris. Os números falam por si: quase 90% da população vacinada com duas doses, até agora, uma das maiores taxas a nível mundial. Rosto de um plano que deu certo, Gouveia e Melo reuniu consensos e foi reconhecido, enquanto Governo e DGS não escaparam a críticas na gestão da pandemia. Com a missão concluída, deixou a “task force”. A vacinação prossegue com a dose de reforço para os mais velhos e com a primeira dose para crianças dos 5 aos 11 anos.

Acontecimento do ano


Nunca tinha acontecido em democracia e é o Acontecimento do Ano para a Renascença. Falamos da crise política desencadeada pelo chumbo da proposta de Orçamento do Estado, que levou à dissolução da Assembleia da República e à convocação de eleições antecipadas. António Costa rejeitou negociar com o PSD e não se entendeu com Bloco de Esquerda e PCP, parceiros na agora desmantelada Geringonça. Orçamento chumbado, as legislativas foram marcadas para 30 de janeiro de 2022 e o futuro está cheio de incertezas. Haverá entendimentos e estabilidade governativa após as eleições ou podemos estar a caminhar para a “italianização” da política portuguesa?

Nacional


Da crise política ao sucesso da vacinação

Acontecimentos

Do pico da pandemia ao sucesso da vacinação

Portugal aliviou as restrições no Natal de 2020 e a fatura chegou pouco depois: terceira vaga e pico da pandemia de Covid-19. O país entra em confinamento geral e as escolas encerram. A 28 janeiro, o pior dia desde a chegada do coronavírus: 303 mortes e 16.432 novos casos. Passada a fase mais grave, as restrições começam gradualmente a ser levantadas, a 15 de março, num plano a quatro fases, com concelhos a diferentes velocidades. No final de junho, novo agravamento e o Governo trava o desconfinamento. Antes, começam a ser emitidos os Certificados Digitais Covid. A variante Delta torna-se dominante e Portugal entra na quarta vaga da pandemia. As medidas, combinadas com o plano de vacinação liderado por Gouveia e Melo, começam a surtir efeito e é anunciada a “libertação” das restrições, ao ritmo da inoculação. Em outubro, arranca a última fase de desconfinamento e os portugueses voltam a dançar nas discotecas, pela primeira vez desde o início da pandemia, e regressam aos estádios. A quinta vaga e a variante Ómicron chegam em novembro. Os casos e as mortes diárias sobem, mas nada comparado com o que acontecia há um ano. Em dezembro, nova situação de calamidade com algumas restrições e, depois das festas, haverá uma “semana de contenção” no início de 2022. A pandemia já provocou mais de 18.600 mortos e um milhão e 200 mil casos em Portugal.Foto: Paulo Cunha/Lusa

Orçamento chumbado e eleições antecipadas

A 12 de outubro, já depois do Bloco anunciar o voto contra o Orçamento do Estado para 2022, o PCP fazia o mesmo. Tal como estava, o texto do Governo teria chumbo certo dos comunistas. Um dia depois, o Presidente da República dramatiza o cenário e avisa que um Orçamento chumbado conduziria “muito provavelmente” à dissolução do Parlamento e a eleições legislativas antecipadas. As negociações entre o Governo e os parceiros de esquerda continuaram, com acusações mútuas de que ninguém cedia e com o primeiro-ministro a fazer vários anúncios de última hora - creches gratuitas, aumento do Salário Mínimo Nacional, aumento extraordinário das pensões logo a 1 de janeiro - que de nada valeram. Era o fim da Geringonça. O Orçamento foi chumbado a 27 de outubro, o Parlamento dissolvido a 5 de dezembro e as legislativas estão marcadas para 30 de janeiro.Foto: Mário Cruz/Lusa

Moedas conquista Lisboa

A dias das eleições autárquicas de 26 de setembro, Rui Rio dava mais uma “pancada” nas sondagens, com a maior parte delas a prever a vitória de Fernando Medina, em Lisboa. O socialista que teve um ano difícil, com o caso da entrega de dados de manifestantes a embaixadas estrangeiras e a polémica festa do título do Sporting em plena pandemia. O líder do PSD apostou tudo no nome que escolheu e Carlos Moedas conquistou a capital. Uma vitória surpresa do ex-comissário europeu e, sobretudo, de Rio. O PS sofre uma derrota em toda a linha em Lisboa. Nas contas nacionais, o PS continua a ser o partido com mais câmaras, mas perdeu várias para o PSD.Foto: Rodrigo Antunes/EPA

Demissão de Eduardo Cabrita

O ministro da Administração Interna anunciou a 3 de dezembro a demissão do cargo. Eduardo Cabrita “cai” na sequência do acidente de viação na A6, a 18 de junho, que vitimou fatalmente um trabalhador. A saída surge poucas horas depois de o Ministério Público ter acusado o motorista do ministro de homicídio por negligência, dado que conduzia a 166 km/h. Quanto a eventuais responsabilidades próprias, Cabrita disse que era “um passageiro” na altura do acidente. Foi chumbada uma comissão de inquérito no Parlamento, mas estão abertos três inquéritos. A indemnização não foi ainda determinada. A família da vítima (mulher e duas filhas) vive com 260€ de pensão de sobrevivência e 638€ da companhia de seguros.Foto: Paulo Cunha/Lusa

Marcelo reeleito

A 24 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa é reeleito Presidente da República com 60,70%. Conseguiu mesmo subir em cerca de oito pontos a percentagem de votos com que foi eleito para o primeiro mandato, em 2016. Em plena pandemia, e ao seu estilo, fez a primeira ação de campanha ao sexto dia do período oficial. Conduziu o próprio carro, sem comitiva, fazendo de candidato e assessor de imprensa, abdicando dos tempos de antena, mas a fazer debates com cada um e com todos os outros candidatos. Marcelo assumiu-se, perante André Ventura, da direita social contra a direita do medo, e marcando a diferença para as candidatas Ana Gomes e Marisa Matias, dizendo que os populismos e os extremismos se vencem no combate de ideias e não na secretaria, com proibições.Foto: Mário Cruz/Lusa

Presidente veta nova versão da eutanásia

Depois de uma primeira aprovação em 2020, a lei da eutanásia foi chumbada pelo Tribunal Constitucional e vetada pelo Presidente da República. O texto voltou ao Parlamento e uma nova versão foi aprovada pelos deputados, já depois do chumbo do Orçamento e da crise política que levou Marcelo a convocar eleições antecipadas. As alterações à lei da eutanásia foram enviadas para Belém e Marcelo Rebelo de Sousa voltou a vetar. O Presidente apontou várias contradições no diploma. A dias da dissolução da Assembleia da República, os deputados não puderam voltar ao assunto, que fica assim para a próxima legislatura.Foto: Tiago Petinga/Lusa (arquivo)

Fuga de Rendeiro

A mentira tem perna curta. O ditado teve confirmação com a detenção de João Rendeiro, que fugiu em setembro, mas “não chegou” ao Natal. O antigo presidente do BPP foi detido a 11 de dezembro, num resort de luxo na África do Sul. Rendeiro andava fugido depois de condenado por três vezes e no final de novembro, em entrevista à CNN Portugal, afastava a possibilidade de regresso a Portugal “pelos próprios pés”, a menos que fosse ilibado ou indultado pelo Presidente da República. As autoridades portuguesas tentam agora extraditar o antigo homem forte do BPP para cumprir a pena de prisão pelos seus crimes.Foto: Luís Miguel Fonseca/Lusa

Operação Marquês sem corrupção

O juiz de instrução Ivo Rosa decidiu levar a julgamento cinco dos 28 arguidos da Operação Marquês e deixou cair as acusações de corrupção. Além do antigo primeiro-ministro José Sócrates, foram pronunciados o empresário Carlos Santos Silva, o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, o antigo ministro Armando Vara e o ex-motorista de Sócrates João Perna. "Especulação", "incoerência" e "fantasia" foram algumas das palavras utilizadas pelo juiz Ivo Rosa para descrever a acusação do Ministério Público, que decidiu recorrer para a Relação.Foto: Mário Cruz/Lusa

Manuel Pinho em prisão domiciliária

Manuel Pinho já era arguido há quatro anos no caso EDP, mas foi detido na reta final de 2021 por ordem do juiz Carlos Alexandre. O antigo ministro da Economia viu as medidas de coação serem agravadas: fica em prisão domiciliária até ao pagamento de uma caução recorde de seis milhões de euros. Alexandra Pinho, mulher do antigo ministro, terá de pagar uma caução de um milhão de euros e está obrigada a apresentações quinzenais às autoridades e a entregar o passaporte. Ricardo Sá Fernandes, advogado de Manuel Pinho, diz que o seu cliente não tem como pagar a caução e fala em “abuso de poder”. O caso BES é uma longa investigação de uma década. Manuel Pinho é suspeito de corrupção e branqueamento de capitais, e de favorecer a EDP e o Grupo Espírito Santo (GES).Foto: António Cotrim/Lusa (arquivo)

Joe Berardo detido

Era o dia de S. Pedro, pela manhã. José Manuel Rodrigues Berardo, mais conhecido como Joe Berardo, era detido. A detenção culminou uma investigação de cinco anos, tendo por base indícios de que o grupo económico liderado pelo empresário madeirense tinha lesado três bancos em cerca de mil milhões de euros. Berardo, o principal de 11 arguidos, ficou indiciado de oito crimes de burla qualificada, branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada, dois crimes de abuso de confiança qualificada e um crime de descaminho. Para aguardar o desenrolar do processo em liberdade, Joe Berardo teve de pagar uma caução de cinco milhões de euros.Foto: Tiago Petinga/Lusa (arquivo)

Condenações no caso Homeniuk

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) pagou, a 21 de janeiro, a indemnização, fixada pela Provedoria de Justiça em 712.950 euros, aos herdeiros de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano morto nas instalações do SEF no aeroporto de Lisboa. Após julgamento e recurso para a Relação, três inspetores daquela força foram condenados a nove anos de prisão por ofensas à integridade física grave, qualificada pelo resultado “doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica grave ou incurável”, caindo a condenação de homicídio. No seguimento deste caso, o Governo quis extinguir o SEF, mas o agravamento dos casos de Covid-19 levou a adiar a decisão.Foto: Miguel A. Lopes/Lusa

Escalada do preço dos combustíveis

Na segunda metade do ano, a escalada dos preços dos combustíveis foi um dos principais focos de tensão social e originou uma série de manifestações em várias cidades. Muitas empresas de transporte queixaram-se de "estrangulamento", os preços de outros bens aumentaram por arrasto da alta dos combustíveis. Em alguns postos de abastecimento, a gasolina simples 95 chegou aos dois euros por litro. Em resposta, o Governo aprovou uma lei para limitar o lucro dos revendedores, que considerou excessivo, e criou o Autovoucher um desconto de dez cêntimos por litro até 50 litros por mês, por consumidor.Foto: Sofia Freitas Moreira/RR

Bazuca europeia

A bazuca europeia que dará corpo ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é considerada como a última oportunidade de Portugal para se colar ao pelotão da frente da União Europeia. São 16,6 mil milhões de euros injetados na economia que dariam para construir qualquer coisa como 15 aeroportos do Montijo. O objetivo, além de reparar os danos mais imediatos da pandemia, é criar emprego e apoiar o investimento, para tornar a Europa, não só mais resistente às crises como também mais ecológica e digital. O PRR foi um dos destaques da presidência portuguesa da UE, no primeiro semestre do ano, juntamente com o Compromisso Social do Porto, a primeira Lei Europeia do Clima, medidas de combate à pandemia, a aprovação do certificado europeu Covid-19 e a cimeira UE-Índia.Foto: Francisco Seco/EPA

Morte de Jorge Sampaio

Jorge Sampaio morreu a 10 de setembro, aos 81 anos, vítima de complicações respiratórias e cardíacas, após dias internado no Hospital de Santa Cruz, em Oeiras. Desde as lutas estudantis até aos alertas humanitários dos últimos anos, passando pela advocacia, Sampaio destacou-se na vida política durante 60 anos. Foi deputado, líder do PS, presidente da Câmara de Lisboa e Presidente da República (1996 e 2004). Teve papel importante no avanço do referendo que levou à independência de Timor-Leste e largou a “bomba atómica”, que dissolveu o Parlamento e fez cair o Governo de Pedro Santana Lopes. Ninguém esquece duas das suas frases: “Há mais vida para além do Orçamento" e "25 de Abril, sempre".Foto: Rodrigo Antunes/EPA

Operação Miríade

Um novo escândalo atingiu as Forças Armadas, em 2021, e ganhou contornos políticos. A Operação Miríade expôs um alegado esquema de tráfico de diamantes, ouro e droga a envolver militares portugueses em missão na República Centro-Africana. Há 11 suspeitos. O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, informou a ONU, mas não avisou o Presidente da República e chefe-supremo das Forças Armadas nem o primeiro-ministro e deixou o país a discutir se o devia fazer. Noutra polémica, uma notícia sobre uma alegada exoneração do chefe do Estado-Maior da Armada, António Mendes Calado, e a sua substituição pelo vice-almirante Gouveia e Melo, motivou uma reunião de alto nível entre Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e o ministro Gomes Cravinho. O Presidente fechou o caso, esclarecendo que é ele quem tem o poder de exonerar chefes militares. Mendes Calado continuou no cargo.Foto: Hugo Delgado/Lusa

Internacional


O ano em que a pandemia permaneceu (e dividiu)

Acontecimentos

Apoiantes de Trump atacam Capitólio

Donald Trump perdeu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas nunca aceitou o resultado e alimentou teorias da conspiração sobre uma alegada fraude eleitoral massiva para favorecer o adversário democrata Joe Biden. A 6 de janeiro de 2021, os apoiantes de Trump passaram das ameaças aos atos e atacaram o Capitólio, em Washington, quando os congressistas votavam para certificar o triunfo de Biden. Horas antes, o Presidente cessante disse aos manifestantes que a vitória nas eleições lhes tinha sido roubada, lançando gasolina para a fogueira. Entre mortos e feridos, cerca de 700 pessoas foram acusadas de vários crimes. Trump tenta travar a investigação ao ataque, é banido do Twitter e falta à tomada de posse de Joe Biden, numa cidade de Washington com apertadas medidas de segurança e soldados na rua.Foto: EPA

Talibãs voltam ao poder no Afeganistão

Os Estados Unidos retiraram do Afeganistão ao fim de duas décadas, sem honra nem glória. A saída foi atribulada e apressada pelo avanço dos rebeldes talibãs e pela falta de resistência das tropas governamentais. O Presidente fugiu do país e os acontecimentos precipitaram-se. Os talibãs tomaram Cabul e o poder, com a retirada do contingente internacional ainda a decorrer. Viveram-se cenas caóticas no aeroporto, com milhares de pessoas a tentar sair do Afeganistão e escapar à nova liderança baseada numa versão radical da lei islâmica. Os direitos das mulheres foram os primeiros a ser rasgados. As raparigas estão impedidas de voltar à escola ou de praticarem desporto, a música deixou de passar na rádio. Enquanto o Afeganistão mergulha numa nova “idade das trevas”, Portugal acolheu 500 refugiados e admite receber mais.Foto: EPA/Stringer

Pandemia matou 5,3 milhões de pessoas

O segundo ano da pandemia de Covid-19 fica marcado pela aceleração da vacinação, mas neste aspeto não estamos todos no mesmo barco. Apenas 7% dos habitantes das nações pobres receberam pelo menos uma dose, enquanto nos países mais ricos a população começou a receber a dose de reforço e se começou a vacinar jovens e crianças. Nos Estados Unidos e na Europa o problema é mais as pessoas que não se querem vacinar. Áustria, Itália e Alemanha começaram a impor restrições específicas para esta faixa da população. As novas variantes são outro desafio. Primeiro foi a Delta, que rapidamente alastrou a todo o mundo e no final do ano surgiu a Ómicron, identificada por cientistas sul-africanos, que será ainda mais transmissível, mas sobre a qual ainda há pouca informação. Na geografia da pandemia, o vírus continuou a dar a volta ao mundo. O Brasil e a Índia ficaram no olho do furacão e a situação na Europa melhorou, até chegar a quinta vaga no final do ano. Desde o início da pandemia, foram confirmadas mais de 5,3 milhões de mortes e 270 milhões de casos de Covid-19. A corrida contra o vírus continua e há uma nova arma: a Agência Europeia do Medicamento aprovou o primeiro medicamento contra a Covid-19.Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Fim da era Merkel

Foram 16 anos. Dezasseis anos de Angela Merkel à frente da maior potência económica da Europa e da União Europeia. Nem sempre amada, nomeadamente durante a crise da dívida e do resgate de Portugal, Grécia e Irlanda, chega ao fim desta era com um respeito praticamente unânime. O seu papel durante a crise dos refugiados, quando abriu a porta da Alemanha a um milhão de pessoas, vai ficar nas páginas dos livros de História. Na hora da despedida, deixa o palco sob o aplauso dos Estados e outros líderes europeus. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu condecorá-la e os elogios não param de chegar. As últimas eleições na Alemanha, em que já se sabia que Merkel ia deixar a sua posição, resultaram na chamada coligação semáforo, entre os partidos SPD, FDP e Verdes. A “Dama de Ferro”, como ficou conhecida, foi substituída no cargo por Olaf Scholz.Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

Visita do Papa ao Iraque

Numa altura em que a Covid-19 limitou muito as viagens internacionais do Papa Francisco, este fez questão de cumprir com a visita agendada ao Iraque. Francisco descreveu esta viagem como uma peregrinação ao berço das religiões monoteístas e visitou a cidade bíblica de Ur, de onde se diz ser originário Abraão. Francisco esteve também em Mossul, onde viu com os seus olhos a destruição deixada pelo Estado Islâmico e encorajou os cristãos a permanecer naquela terra, apelando à convivência entre diferentes religiões e etnias. Sublinha-se ainda o encontro com o líder dos xiitas iraquianos. O ayatollah al-Sistani raramente recebe visitas, mas abriu exceção para acolher Francisco e juntos apelaram à paz num país martirizado pelo conflito.Foto: DR

Massacre em Cabo Delgado

A insurreição que começou há cerca de três anos em Cabo Delgado, Moçambique, atingiu novos picos de violência em 2021. A vila de Palma foi novamente atacada e até ocupada temporariamente por alegados jihadistas. Centenas de milhares de pessoas fugiram, procurando abrigo em locais mais seguros, mas dezenas de civis foram mortos. A comunidade internacional mobilizou-se finalmente e Portugal aceitou enviar especialistas para ajudar a formar o exército moçambicano para fazer frente à ameaça. Entretanto, o bispo de Pemba, o brasileiro D. Fernando Lisboa, foi transferido para fora do país. Responsável por chamar a atenção do mundo para o problema na sua diocese, que abrange Cabo Delgado, o bispo admitiu mais tarde que foi retirado porque havia ameaças vindas do Governo.Foto: Oikos

Migrantes como arma de arremesso

A crise dos refugiados tem novos focos na Europa: o Canal da Mancha e, a leste, a fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. Neste último ponto, o regime de Minsk, apoiado pela Rússia, é acusado de utilizar os migrantes como arma para desestabilizar a União Europeia. A Polónia enviou milhares de soldados para a fronteira e anunciou a construção de um muro. O Canal da Mancha assistiu à sua maior tragédia com migrantes, quando um naufrágio provocou mais de 30 mortes. O caso transformou-se num conflito diplomático entre Londres e Paris, por causa das regras de asilo e acolhimento.Foto: Leonid Scheglov/EPA

Haiti de volta ao caos

Diz uma lenda apócrifa que o primeiro líder do Haiti assegurou a independência do país através de um pacto com o diabo. Bem real é a dura história de pobreza, caos e desastres naturais que têm assolado a pequena nação das Caraíbas. Numa altura em que estava ainda a tentar recuperar do catastrófico sismo de 2010, que matou cerca de 300 mil pessoas, o país foi novamente atingido por um tremor de terra que, apesar de ter feito menos mortes, cerca de 2.200, deixou a economia outra vez de rastos. A onda de criminalidade que se seguiu, e que nem poupa missionários estrangeiros que estão no país para ajudar os mais necessitados, levou inclusivamente ao assassinato do Presidente da República. O caos parece não querer largar o Haiti.Foto: Orlando Barria/EPA

Cargueiro encalha no Suez

A culpa, ao que parece, foi de uma tempestade de areia. A força do vento fez desviar a proa do navio Ever Given, um dos maiores cargueiros do mundo, com capacidade para 20 mil contentores, levando-o a encalhar na margem do Canal Suez, bloqueando-o e impedindo a passagem de centenas de outras embarcações, no dia 23 de março. O resultado foi desastroso para a economia mundial e pôs a nu o quanto esta depende de passagens como esta, que liga o Mar Vermelho e o Mediterrâneo. Dados apontam para prejuízos de cerca de 316 milhões de euros por hora, de um bloqueio que durou um total de sete dias. Finalmente libertado no dia 29, o Ever Given foi apreendido pelo Governo egípcio até que se chegou a um acordo de indemnização, em julho de 2021. O caso do canal do Suez foi um presságio para a crise na cadeia de abastecimento mundial que começou a atingir a economia mundial na reta final do ano.Foto: Maxar Technologies/EPA

A “luta incansável” de Navalny

Depois do envenenamento com um agente neurotóxico que o deixou às portas da morte, Alexey Navalny regressou à Rússia para ser detido à chegada. O opositor mais público e notório ao regime de Vladimir Putin haveria de ser condenado, em fevereiro, a dois anos e meio de prisão, por violação de liberdade condicional. A decisão teve como resposta uma onda de manifestações. Navalny, que afirma ser vítima do medo e ódio do Presidente russo, ficou a saber na cadeia que tinha sido distinguido com o Prémio Sakharov, como reconhecimento pela sua “luta incansável contra a corrupção do regime de Vladimir Putin” que lhe “custou a liberdade e quase a vida”.Foto: EPA

Golpe de Estado em Myanmar e prisão de Suu Kyi

Dificilmente abrem noticiários radiofónicos ou televisivos e dificilmente estão no topo das “homepage” ou nas manchetes dos jornais. Estão, todavia, sempre lá: Myanmar e Aung San Suu Kyi. Este ano, a 1 de fevereiro, a notícia era a de um golpe de Estado. Aung San Suu Kyi, o presidente Win Myint e outros líderes do partido governante foram detidos pelo Tatmadaw, o exército do país, que respondeu às manifestações com violência extrema. Um mês depois, a junta militar que tomou o poder acusava, entre outras coisas, Suu Kyi, que reclamava a vitória nas eleições de novembro de 2020, de corrupção. Também de posse ilegal de rádios “walkie-talkie”. Inicialmente condenada a quatro anos de prisão, Aung San Suu Kyi, de 76 anos, viu ser-lhe reduzida a pena para dois anos.Foto: Reuters

Vulcão nas Canárias

Cumbre Vieja - o nome da elevação vulcânica que colocou a ilha de La Palma, arquipélago espanhol das Canárias, no topo dos alinhamentos informativos, a partir de 19 de setembro. A última vez que acontecera foi em 1971. A erupção fez com que a área da ilha aumentasse em 43 hectares, devido à criação de deltas de lava e fajãs que atingiram as águas do Atlântico. A 12 de dezembro, esta erupção do vulcão Cumbre Vieja tornou-se na mais longa da ilha de La Palma: 85 dias de atividade. O recorde anterior era do vulcão Tehuya, que passou 84 dias em erupção no ano de 1585. A paisagem da ilha mudou e muitas vidas foram afetadas para sempre. O vulcão obrigou à retirada de centenas de pessoas e destruiu mais de 1.500 casas.Foto: Foto: Miguel Calero/EPA

Cimeira do Clima a carvão

Cheias rápidas e devastadoras na Alemanha, Bélgica e Países Baixos em pleno verão, violentos incêndios na Grécia e em Itália, ondas de calor mortal no Canadá, Estados Unidos e Índia. Foi neste cenário que decorreu a Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na Escócia. O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um repto dramático: estamos a "cavar a nossa própria sepultura" e medidas ambiciosas precisam-se. Mas a declaração final da COP26 suavizou o apelo ao fim do uso de carvão e os países menos desenvolvidos não conseguiram mais dinheiro para fazer face aos danos causados pelas alterações climáticas. A ativista Greta Thunberg criticou o "blá blá blá" dos líderes mundiais.Foto: Julien Warnand/EPA

Bilionários no espaço

O ano fica marcado pelo tiro de partida de uma corrida espacial entre bilionários. O britânico Richard Branson foi pioneiro e realizou o primeiro voo turístico espacial, a bordo da VSS Unity, nave da sua empresa Virgin Galactic. O fundador da Amazon, Jeff Bezos, também entrou no negócio das viagens espaciais. O homem mais rico do mundo criou a empresa Blue Origin, foi ao espaço pela primeira vez e levou companhia. Fora do âmbito turístico, o planeta Marte foi em 2021 o destino de três sondas espaciais, enviadas pelos Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos. As missões são muito diferentes, mas o objetivo comum é conhecer melhor o “Planeta Vermelho”.Foto: Reuters

O metaverso é o futuro

Em 2021, uma antiga funcionária do Facebook denunciou práticas reprováveis da multinacional, alegadamente mais interessada no negócio do que na proteção dos milhões de utilizadores das suas redes sociais. Mark Zuckerberg, o patrão do Facebook, arrepiou caminho e anunciou a aposta no Metaverso. Este universo em expansão, com um potencial de muitos milhares de milhões de dólares, quer proporcionar uma nova experiência mais imersiva, reunindo redes sociais, realidade aumentada, jogos online e criptomoedas. O ano também fica marcado pela chegada da tecnologia 5G aos smartphones dos portugueses, com a cobertura a dar os primeiros passos, e pela "loucura" dos NTF ou ‘tokens’ não-fungíveis, primeiro utilizados no mercado de arte digital e que já chegaram, por exemplo, ao desporto. Uma “colagem digital” do artista Beeple foi vendida por mais de 58 milhões de euros, valor recorde para obras não físicas.Foto: Meta

Desporto


Acontecimentos

Sporting campeão 19 anos depois

Perguntaram a Rúben Amorim: "E se corre mal?" O treinador do Sporting respondeu: "E se corre bem?" E correu. Ao fim de 19 anos de jejum, e de 32 jornadas a recusar assumir a candidatura, o Sporting, que já tinha dado aos adeptos um gostinho da glória com a conquista da Taça da Liga, sagrou-se campeão nacional. A festa no Marquês e arredores, que deu azo a um apontar de dedos multidirecional entre Sporting, Eduardo Cabrita, Câmara de Lisboa e PSP, foi farta, gerou preocupação com um possível aumento do número de novos casos de Covid-19 e fez correr tinta até ao final do ano. Com o dobrar da nova época, e com os adeptos de regresso, o Sporting enviou um sinal a quem pensasse que 2020/21 fora mera obra do acaso: arrancou logo com a vitória na Supertaça.Foto: Miguel A. Lopes/Lusa

A queda de Luís Filipe Vieira

Terramoto na Luz. O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, foi detido a 7 de julho, no âmbito da operação “Cartão Vermelho”, por suspeitas de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento, que podem ter movimentado mais de 100 milhões de euros. Chegou a estar em prisão domiciliária até pagar a caução. Há mais três arguidos: o empresário José António dos Santos, o filho do ex-presidente do Benfica, Tiago Vieira, e o agente de futebol Bruno Macedo. A “queda” de Vieira obrigou a que o número dois da direção, Rui Costa, assumisse interinamente a direção dos encarnados. A 9 de outubro, no maior ato eleitoral de sempre de um clube em Portugal, com mais de 40 mil votantes, o antigo jogador venceu as eleições com 84,4% dos votos e tornou-se o 34.º presidente das águias.Foto: Candidatura de Rui Costa

Portugal campeão do Mundo em Futsal

Era o último Mundial de Ricardinho. Aos 36 anos, o capitão conseguiu, finalmente, ajudar a seleção nacional a fazer o que nunca conseguira: sagrar-se campeã do mundo de futsal. Na Lituânia, ficaram pelo caminho Tailândia, Ilhas Salomão, Marrocos, Sérvia, Espanha, Cazaquistão e, na final, a então campeã em título Argentina. Portugal venceu por 2-1, com dois golos de Pany Varela. A juntar ao título europeu conquistado em 2018, este troféu faz da equipa das quinas a melhor seleção do mundo da atualidade. Assim fechou Ricardinho o percurso por Portugal. Em novembro, o melhor jogador português de sempre, seis vezes melhor do mundo, anunciou o adeus à seleção.Foto: Toms Kalnins/EPA

Europeu de futebol. Portugal desilude, ganha a Itália

Cinco anos depois da noite histórica em Paris, Portugal falhou redondamente na tarefa de defender o título. Venceu apenas o primeiro jogo da fase de grupos, frente à Hungria, num jogo em que não se livrou de vários sustos. Foi goleado pela Alemanha e empatou com a França. O sonho terminou em Sevilha frente à Bélgica, com mais uma exibição desapontante da equipa de Fernando Santos, que volta a cair nos oitavos de final, tal como no Mundial 2018. Portugal tinha mais responsabilidade e melhor equipa do que em 2016, tentou repetir a fórmula, mas saiu de cena com o pior resultado de sempre da seleção num Campeonato da Europa. Foi o Europeu de Mancini e da Itália campeã, o Europeu em que o coração de Eriksen parou e voltou a bater e o Europeu da confusão na final, com feridos e entradas forçadas em Wembley.Foto: Lluis Gene/EPA

O melhor Portugal em Jogos Olímpicos

Portugal conseguiu, nos Jogos Olímpicos de Tóquio – adiados um ano devido à Covid-19 -, os seus melhores resultados de sempre. Foram 15 os diplomas (incluindo quatro medalhas: ouro de Pedro Pichardo, prata de Patrícia Mamona e bronze de Jorge Fonseca e Fernando Pimenta) e 21 atletas na posição de meias-finais (entre o 9.º e o 16.º), o que dá um máximo de 57 pontos. Com estes resultados foi ultrapassado, por larga margem, o contrato protocolado pelo Comité Olímpico com o Governo. Para além dos bons resultados lusos, o evento ficou também muito marcado pela decisão de Simone Biles. A ginasta norte-americana, campeã olímpica em título, desistiu de várias das provas para “focar-se na sua saúde mental”.Foto: José Coelho/Lusa

Messi, adeus a Barcelona e 7.ª Bola de Ouro

Um ano depois de ter tentado rescindir, a caminhada histórica de Messi no Barcelona chegou ao fim de forma inesperada. O astro argentino terminava contrato a 30 de junho e tinha praticamente tudo acordado para renovar, mas as dificuldades financeiras que o clube atravessa ditaram a saída do icónico número 10. 672 golos em 778 jogos e 32 títulos conquistados em 17 temporadas. É este o palmarés do argentino no Barcelona. “Nunca pensei despedir-me desta maneira”, disse Messi, em lágrimas, na conferência de imprensa de despedida do Barcelona e que ficará na história do futebol mundial. O Paris Saint-Germain cumpriu o sonho de longa data de contratar Messi, que procura agora conquistar o trono do futebol europeu. O ano termina com Messi a vencer a sua sétima Bola de Ouro, recorde absoluto na história do futebol.Foto: Albert Gea/Reuters

Ronaldo, rei do golo nas seleções

Cristiano Ronaldo regressou a casa. Aos 36 anos, depois de três épocas na Juventus, a última manchada pela perda do título de campeão italiano, o internacional português voltou ao Manchester United, clube que o lançara para a ribalta, com que vencera as suas primeiras Liga dos Campeões e Bola de Ouro, e que, 12 anos antes, trocara pelo Real Madrid. Qual a melhor forma de celebrar? Tornando-se o melhor goleador da história por seleções masculinas, pois claro. No dia seguinte ao anúncio do retorno a Old Trafford, Cristiano Ronaldo marcou, frente à República da Irlanda, o 110.º e o 111.º golos por Portugal e ultrapassou o histórico Ali Daei, que apontara 109 golos pelo Irão. Entretanto, o registo de CR7 já vai em 115 golos.Foto: António Cotrim/Lusa

Regresso do público aos estádios

Foram 516 dias sem adeptos nos estádios. O início do campeonato marcou, também, o regresso do público ao futebol, depois de uma época de 2020/21 com vários avanços e recuos. Primeiro a 33%, depois a 50%, no final de agosto. Por fim, no final de setembro, a DGS autorizou que os estádios voltassem a encher. O que nunca encheu foi a zona do Cartão do Adepto, medida introduzida esta época com o objetivo de combater a violência no futebol, mas muito contestada por adeptos, clubes e dirigentes. Jogo após jogo, secções inteiras das bancadas ficavam vazias. Até que, em novembro, a Assembleia da República votou, de forma unânime, a revogação do Cartão do Adepto.Foto: Mário Cruz/Lusa

Chelsea vence Champions no Dragão

O Chelsea bateu o Manchester City e venceu a sua segunda Liga dos Campeões. O Porto foi o palco escolhido e foi a primeira vez na história da prova que a final realizou-se em dois anos consecutivos no mesmo país. Os “blues” sucederam ao Bayern de Munique, que venceu em Lisboa. A final estava marcada para Istambul, na Turquia, mas as restrições de viagens, consequentes da pandemia da Covid-19, levaram a que Portugal voltasse a entrar no mapa do futebol europeu. Milhares de ingleses invadiram as ruas da cidade no dia 29 de maio e não se cumpriu a “bolha” planeada pelo Governo. Os adeptos andaram livremente pela cidade e os conflitos prolongaram-se pela madrugada. Dentro de campo, Tuchel bateu Guardiola e Kai Havertz tornou-se lenda dos londrinos, para desilusão dos portugueses Rúben Dias, João Cancelo e Bernardo Silva.Foto: Pedro Nunes/Reuters

Abel Ferreira vence segunda Libertadores

O Palmeiras, treinado pelo português Abel Ferreira, conquistou pela segunda vez consecutiva, o título na Taça Libertadores, a maior prova de clubes do futebol sul-americano. Foi o primeiro a fazê-lo em menos de um ano. Em Montevideu, a equipa da cidade de São Paulo derrotou o Flamengo - que com Jesus alcançou a mesma prova em 2019 -, por 2-1, no prolongamento. O golo do triunfo foi apontado por Deyverson, avançado que passou por Portugal. No final da partida, após feito histórico, o técnico bicampeão deixou em aberto a possibilidade de deixar o “Verdão” em breve, apesar de ter contrato até dezembro de 2022.Foto: Ricardo Moraes/EPA

Super-Filipa

“Com a minha idade, pensar-se-ia que a minha carreira estava a acabar, mas consegui conquistar mais do que nunca”, declarou Filipa Martins, na chegada a Portugal, após participar nos Mundiais de ginástica artística. De facto, aos 25 anos, a portuguesa foi a duas finais nos Europeus, onde conseguiu que um movimento por si criado, o "Martins", fosse incluído no Código de Pontuação, ficou à porta da final de paralelas assimétricas nos Jogos Olímpicos de Tóquio e, em outubro, alcançou históricos sétimo e oitavo lugares nas finais de "all around" e paralelas, respetivamente, nos Mundiais. Só o apuramento para a final de paralelas já fora inédito na ginástica portuguesa, mas Filipa Martins conseguiu, inclusive, sair de Kitakyushu, no Japão, com um diploma.Foto: Kiminasa Mayama/EPA

Neemias Queta, do Barreiro para a NBA

A NBA cresce em popularidade de ano para ano em Portugal. Se antigamente os portugueses se encantaram com Allen Iverson, Kobe Bryant, Stephen Curry e LeBron James, há agora outro motivo para entusiasmar os adeptos da modalidade. Neemias Queta, de 22 anos, tornou-se o primeiro português na história a chegar à NBA. Deixou o Benfica em 2018 para tentar a sua sorte no basquetebol universitário norte-americano. Depois de três anos na Utah State, o poste de 2,13m conseguiu chegar à elite do basquetebol mundial. Foi selecionado pelos Sacramento Kings na 39ª escolha do “draft”, abrindo uma nova página na história do basquetebol português. “Nunca fui a um jogo da NBA”, disse Neemias no dia em que foi escolhido. “Quetão” ainda aguarda a estreia na equipa principal dos Kings, mas já pode dizer que fez história no desporto nacional.Foto: Orlando Ramirez/Reuters

Braga ergue Taça de Portugal

O Sporting de Braga conquistou, a 23 de maio, a Taça de Portugal de futebol depois de ter derrotado o Benfica, por 2-0. Esta foi a terceira “prova rainha” a seguir para o museu dos arsenalistas, depois das vitórias em 1966 e 2016. Os golos foram apontados por Lucas Piazón e Ricardo Horta, numa partida que ficou marcada pela expulsão do guarda-redes encarnado Helton Leite, aos 17 minutos. O técnico Carlos Carvalhal estava feliz pela conquista em ano de centenário do clube: “Significou tudo para mim”, disse.Foto: Hugo Delgado/Lusa

Mortes e sustos no desporto

No dia 3 de janeiro, Alex Apolinário, futebolista do Alverca, sofreu uma paragem cardiorrespiratória e caiu inanimado durante um jogo. Três dias depois, o médio brasileiro, de 24 anos, faleceu por morte cerebral. A 9 de janeiro, o basquetebolista Paulo Diamantino, de 36 anos, antigo internacional português e jogador do FC Porto, morreu durante um jogo, depois de ter caído inanimado em campo. A 22 de fevereiro, Alfredo Quintana, de 32 anos, guarda-redes da seleção nacional de andebol e do FC Porto, sofreu uma paragem cardiorrespiratória num treino. Morreu quatro dias depois. Em junho, ao minuto 43 do segundo jogo do Euro 2020, entre Dinamarca e Finlândia, Christian Eriksen, caiu no relvado, vítima de uma paragem cardíaca. O médio dinamarquês do Inter de Milão foi reanimado ainda no relvado, rodeado pelos companheiros de seleção, que o protegeram dos olhares do público e das câmaras. O jogo foi reatado e a Finlândia venceu, perante uma seleção da Dinamarca ainda atordoada com o que se passara, mas que viria, depois, a chegar às meias-finais. Eriksen recuperou, mas ainda não se sabe se voltará a jogar futebol.Foto: Friedemann Vogel/EPA

O “inconseguimento” da Superliga Europeia

A 18 de outubro de 2021, um vulcão chamado Superliga Europeia entrou em erupção. Doze clubes - Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Juventus, AC Milan, Inter de Milão, Liverpool, Manchester United, Manchester City, Arsenal, Chelsea e Tottenham - oficializaram a criação de um projeto exclusivo para os “tubarões” do futebol europeu. Esta nova prova, apresentada como o remédio para os problemas financeiros dos grandes clubes, cujas hemorragias de dinheiro foram postas a nu pela pandemia da Covid-19, foi rejeitada a todos os níveis. UEFA e FIFA ameaçaram com exclusões e expulsões, Bayern de Munique e PSG, jogadores e treinadores dos próprios clubes fundadores, como Bruno Fernandes e Pep Guardiola, e até políticos condenaram a ideia. Porém, quis o futebol que a Superliga caísse pela mão dos adeptos. Um a um, a começar pelos ingleses, os clubes cederam à forte pressão dos seus associados e abandonaram o projeto. Restam apenas Real, Barça e Juve, agarrados a um “nado-morto” que dizem ser a salvação do futebol, mas que parece já não ter pernas para andar.Foto: Neil Hall/EPA

Verstappen destrona Hamilton e é campeão na Fórmula 1

A Fórmula 1 está novamente na moda e que melhor publicidade do que um campeonato decidido na última volta do último Grande Prémio? Max Verstappen rivalizou toda a temporada com o sete vezes campeão Lewis Hamilton. Os dois entraram em pista em Abu Dhabi com os mesmos pontos, um cenário que apenas tinha acontecido uma vez em 72 temporadas de Fórmula 1. Verstappen partiu da “pole position”, Hamilton assumiu a liderança ainda na primeira volta e o holandês apenas voltou à liderança na última volta da corrida, com polémica à mistura. Verstappen vence o primeiro título da sua carreira, confirmando o potencial que o levou a ser o mais jovem piloto de sempre na Fórmula 1, quando se estreou com apenas 17 anos em 2015. A Mercedes, que venceu o Mundial de Construtores, contestou as decisões do diretor de corrida, mas o recurso foi recusado. Um final de campeonato épico, que dividiu adeptos e reacendeu paixões pela elite do automobilismo.Foto: Kamran Jebreili/ Pool/EPA

Cartão Vermelho, Fora de Jogo, Prolongamento. Buscas nos clubes portugueses

Não foram só as buscas no Benfica, que acabariam por ditar a queda de Luís Filipe Vieira, que colocaram, uma vez mais, em causa a idoneidade do dirigismo desportivo em Portugal. Em maio, houve buscas nas instalações da FC Porto SAD, devido à possibilidade de Shoya Nakajima ter viajado para o estrangeiro infetado com Covid-19. Em novembro, a PJ voltou a realizar buscas no Dragão, desta vez no âmbito da operação "Prolongamento", segunda parte da operação "Cartão Vermelho", que levou à detenção de Vieira, com extensão em Pinto da Costa, também alvo de buscas. O Ministério Público suspeita de mais de 15 negócios dos portistas. Dias depois, Sporting de Braga e Vitória de Guimarães foram alvo de buscas, a propósito da operação "Fora de Jogo", que em 2020 também já levara a buscas aos três grandes e à Gestifute, do empresário Jorge Mendes. Ainda em novembro, a PJ visitou as instalações do Tondela, à procura de documentos relacionados com a transferência de um jogador.Foto: José Coelho/Lusa