Quantas são? Onde estão? Quais circulam em Portugal? E porque preocupam? Um guia sobre as variantes que causam a Covid-19

22/07/2021 - Joana Gonçalves, João Antunes

Última actualização: 06/12/2021

São cada vez mais e começam a atrasar a meta da imunidade de grupo contra a Covid-19. Como emergem? Que efeitos têm no controlo da pandemia e quais predominam na sua região? Acompanhe aqui a evolução das variantes de preocupação do SARS-CoV-2.

Frequência das variantes do SARS-CoV-2 por país

Fontes: GISAID, Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal - coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Rádio Renascença
Nota: Foram consideradas as variantes de preocupação e interesse, de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde. Dado que se desconhece a estratégia de amostragem de cada país, os gráficos apresentados poderão não refletir totalmente a frequência real das variantes, bem como as sua distribuição ao longo do tempo. No caso de Portugal, os dados apresentados refletem fielmente estes parâmetros a partir da semana 22 (i.e., desde 31 de maio).

A disparidade na distribuição e administração das vacinas contra a Covid-19 representa o maior risco para o controlo da pandemia e em causa está o perigo de emergência de novas variantes.

As novas estirpes do SARS-CoV-2 são o reflexo da teoria da evolução de Darwin e é, também, por isso que as mais transmissíveis e resistentes tendem a predominar. Quanto mais frequente é a transmissão, mais vezes o vírus se replica e maior é o número de mutações que gera, aumentando assim a probabilidade de emergência de uma variante mais perigosa e resistente aos fármacos aprovados pela Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa).

Num esforço para controlar a pandemia e prevenir um risco acrescido para a saúde pública, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou às autoridades nacionais que reforcem a monitorização das variantes em circulação e reportem qualquer alteração com previsível impacto nocivo. Até ao momento, foram identificadas pela OMS quatro “variantes de preocupação” (VOC, na sigla em inglês) e sete “variantes de interesse” (VOI, na sigla em inglês).

Quantas são? Onde estão? E que variantes da Covid-19 circulam em Portugal?

Variantes de preocupação

Uma variante é considerada de preocupação quando se verifica pelo menos uma das seguintes condições:

  1. Maior transmissibilidade do vírus
  2. Aumento da virulência ou alteração clínica da doença
  3. Diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública, dos diagnósticos, das vacinas e de outros tratamentos disponíveis

Atualmente, existem cinco variantes com esta classificação. Todas já identificadas em Portugal.

Transmissibilidade das variantes de preocupação do SARS-CoV-2

O R0, o número básico de reprodução, corresponde ao número médio de casos secundários gerados a partir de um único confirmado. Este indicador da transmissibilidade do vírus é calculado numa fase inicial da epidemia, sem o efeito das medidas de contenção implementadas.

Fonte: Annals of Translational Medicine, INSA, ECDC, Rádio Renascença
As estimativas do parâmetro de transmissibilidade referente ao R0, isto é, número básico de reprodução, estão sujeitas a atualizações que refletem a natureza do método científico.

Variante Local e data da primeira amostra identificada Impacto na gravidade da doença que provoca Frequência relativa em Portugal (%)
Alpha Reino Unido, Setembro 2020 Aumento do risco de hospitalização

Possível aumento do risco de gravidade e mortalidade
0%
Beta África do Sul, Maio 2020 Possível aumento do risco de hospitalização e morte 0%
Gama Brasil, Novembro 2020 Possível aumento do risco de hospitalização 0%
Delta Índia, Outubro 2020 Possível aumento do risco de hospitalização 100%
Ómicron África do Sul e Botswana, Novembro 2021 Possível aumento do risco de hospitalização 0%

Tabela atualizada a 06 de dezembro de 2021
Fontes: OMS, ECDC, INSA

Eficácia das vacinas contra as variantes de preocupação do SARS-CoV-2

Apesar de algumas das vacinas administradas no espaço europeu apresentarem uma clara redução na eficácia da prevenção da infeção por certas variantes do SARS-CoV-2, todas elas demonstraram, até ao momento, uma forte eficácia contra a hospitalização e morte por qualquer vírus associado à Covid-19.

Fontes: OMS, NEJM, NEJM, NEJM, The Lancet, The Lancet, Nature, Rádio Renascença
O impacto das novas variantes na eficácia das vacinas contra a Covid-19 administradas na UE está sujeito a atualizações que refletem a natureza do método científico. Última atualização: 20 de julho de 2021

Variantes de interesse

Uma variante é considerada de interesse quando:

  1. apresenta alterações genéticas que se prevê que possam afetar as características do vírus, como transmissibilidade, gravidade da doença, resposta imunológica ou eficácia das medidas sociais e de saúde pública, dos diagnósticos, das vacinas e de outros tratamentos disponíveis
  2. foi identificada como causadora de transmissão comunitária e detectada em vários países.

Até ao momento, a OMS atribuiu a classificação de VOI a oito variantes. Seis abandonaram, entretanto, a lista [Epsilon, Eta, Iota, Kappa, Theta, Zeta]. As duas que permanecem foram já detectadas em Portugal.

Variante Local e data da primeira amostra identificada Número de casos identificados em Portugal Número de concelhos onde foi detectada
Lambda Perú
Dezembro 2020
2 2
Mu Colômbia
Janeiro 2021
25 17

Tabela atualizada a 06 de dezembro de 2021
Fonte: INSA

Frequência das variante de preocupação em Portugal por regiãos

Fonte: INSA

O impacto das novas variantes na imunidade de grupo

As novas variantes do SARS-CoV-2 alteraram a meta estabelecida da imunidade de grupo e 70% de portugueses imunizados já não são suficientes para interromper totalmente a circulação do vírus em Portugal. O célebre marco esticou e está agora perto dos 85%, como confirmou em entrevista à Renascença o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.

De acordo com o especialista, membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS, as variantes Alpha e Delta, com origem no Reino Unido e na Índia, respetivamente, são as responsáveis pela “subida do valor percentual da população que tem de ser vacinada para atingirmos a imunidade de grupo”.

Como a vacina não é 100% eficaz, para atingirmos 85% de pessoas totalmente protegidas, teremos que vacinar, pelo menos, 90% da população. É, também, por este motivo que se coloca agora a questão da vacinação abaixo dos 18 anos.

Como é que as novas variantes alteraram a meta da imunidade de grupo?

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Coordenação Editorial

Joana Bougard

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